martes, 21 de febrero de 2017

Conversações no café. A tipa da bilheteira da estação de bus.

        

Combinei com a minha amiga  Ângela, na praza dos cafés,  assim é chamada por  nós por uma simples explicação, num largo pequeno há cinco cafés, oficialmente chama-se de Paz Novoa. De vez em quando  quadramos os nossos tempos e fazemos calhar à ocasião  para tomarmos  um café.  É um  lugar típico , quase  de culto, tanto para  os que temos o privilegio de trabalhar  por os  arredores ou  para os muitos paseantes  diversos, sejam ,  xubilados,  homens de negocios, mulheres  ja com anos, ociosos, ou gentes de passo  pela cidade.  Como a gente gostamos de ir onde há gente, por essa mesma razão há tanta gente. 
     
Pedimos um café no Plaza com as suas mesas antigas de mármore branco e patas de ferro negro  na estrutura.Local amplo e reservado com dois andares. Depois das primeiras frases de rigor, e do tempo e já assentados e a sorver na taça do café,  começou a  contar  e a dizer que estava realmente zangada, chocada, e farta de muitas coisas. Há dias, piores que outros, dias  nos quais tudo parece cinzento e tudo o que apanhas arredor são coisas que vèm o avesso. Tudo parece revoltado contra um, o será que um mesmo  nesse dia parece um termómetro da  indignação. 

      - Não sei onde vamos a ir com este nosso país, Galiza, de merda. Há gente que  por vezes parecem mortalhas  viventes, outros parecem andar no sono da indiferença e a paisagem humana desta  cidade parece o imagem  da ultratumba. Será  este  tempo de inverno, lento e triste o que faz as pessoas assim ou  é que realmente  nós os galegos somos tal como   dizem de nós  quando falam de nós?. 

        Eu escutava e tratava de baixar um bocado o seu torrente depressivo, negativo daquele dia. Ela sabe que não me incomoda essa  forma de dizer, de que gosto das pessoas que ficam zangadas e gostam de berrar ou de desabafar o seu enfado. Gosto mais que das que calam e não se manifestam. Então quis dar-lhe pé e perguntei-lhe, 
              
        - Embora,qual foi a chispa, a causa que motivou o  teu enfado tão forte? Tem que haver alguma coisa, sempre há algo que fere um pouco mais num ? Que é o que  te fez chegar o limite da margem  da tolerância.  Tens que me dizer?


              Sorveu um pouco café, sorriu, e lançou ou seu empolgado discurso.

       -Não posso suportar as pessoas que estão trabalhando para o público e são dessaboridas, frias e ainda pior não fazem o seu trabalho ou não sabem nada do seu trabalho. São uma maldição bíblica para o cidadão. há  uma grande quantidade de gente que  ficaria  encantada de trabalhar em qualquer  coisa e daria um serviço bem gratificante  de face o  público?

     -Concordo contigo, bem sabes, já temos falado disto muitas vezes, mas conta o caso recente que viveste.

   -Sim, escuta,  fui hoje a bilheteira da estação de  autocarros e pergunto-lhe a tipa, é como melhor posso defini-la,  se podía dar-me, se faz favor, um pequeno cartaz ou um papel de horários dos autocarros que fazem a línea de Ourense para Pontevedra. 
         Nem sequer me olhou. Ignorou a minha presença, deu a volta e apanhou um papel que tinha na secretaria e pôs-e a recortá-lo e deu-me o recorte feito. Eu peguei nele e disse-lhe, obrigado. Ela segue lá no seu  aborrecido mundo de merda e nem ouviu rés. Olhei o papel branco  recortado  com letra a branco e preto e perguntei-lhe a que hora llegaba o autocarro que saia de Pontevedra as nove da manha, pois no tal papelinho não constavam as horas de chegada. Pois eu estava a esperar a uma pessoa que chegava nesse autocarro. 
           A tipa da bilheteira olhou-me e com voz de pita disse-me. 

       -Yo eso no lo sé, vete abajo y pregunta a los de abajo, yo solo tengo  los horarios de salida. 
       Só lhe faltou acrescentar a linda frase, a mi que me cuentas no es  mi problema, yo digo lo que me dijeron , vaya. 
       Tudo adubado cum sotaque  de   galego pailán falante de castelhano, que lhe dava  um tom cómico.  
       Sai dali  zangada, olhando o que fazer Virei as minhas costas a tal palerma e baixei as escadas para esperar o autocarro. 
       Quando o autocarro chegou por volta das onze e meia, e acompanhando a quem eu esperava antes de partir para a cidade fui de novo a bilheteira  para saudar a tipa  em questão e disse-lhe
        -Olha o autocarro que sai de Pontevedra as nove da manha chega aquí as once e meia, por se alguém alguma vez, vem a perguntar-te esta questão. É para que fiques sabida da noticia  faz-te  um pequeno apontamento  para não te olvidares. 

           Os dois olhamos as nossas chávenas de café, sorrimos e marchamos pensando que há días vulgares na vida da gente, e outros que ainda era melhor não  viví-los, mas  grazas a Deus a maioria são cheios de vida e de luz e deixan a gente contente. 

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