no capítulo anterior
Baltar, junio de 1965.
"É "melhor crê-lo que averiguá-lo"
Assim pois, neste primeiro dia seguinte a noite do assassinato, no martes ou
terça feira deste mes de julho ou das seituras, andei dum lado para outro cos
ouvidos atentos a tudo quanto se dizia nas tabernas , na rua, e na minha casa sobre o
assasinato do Carlos, o chofer da Línea. Eu, andava a
dizer por toda parte onde podia, que estivera presente na morte do chófer, que cheguei a sua beira recem estoupara o tiro e, o mais importante, que eu mesmo, vim o morto tirado
no chau boca arriba, quando não havia ninguém na entrada da casa, agás a
sua mulher chorando dentro. Eu gostava de resaltar que estiveramos os dous frente a frente; que o seu rostro era sereno e não estava desfigurado; os seus olhos ainda abertos faciam-me sentir como se ele me quisesse falar. Eu ia dicindo todo esto, além de ser uma obriga por ser certo e tão novedoso que dava motivo para ser contado, principalmente para ser ademitido nos círculos de comentarios tanto sas persoas maiores como dos mozotes e rapazotes maiores que eu. Realmente era um prazer ter bela naqueles
enterros de rondos de comentarios. Por vezes até me sentia qual policía que ensina a sua identificação. O caso é que quer fosse duma maneira quer doutra ninguém dava relevância a minha
testemunha. Não conseguia acadar uma posição suficintemente relevante para que se me prestasse atenção. E ainda pior, nem valor se dava o facto de eu eu levar já moito mais tempo mergulhado no acontecimento que
qualquer daqueles jumentos que andavam a latricar, sem saber nada. Isso zangava-me bastante, pois
quer se queira quer não todos queremos o noso postinho de relevância
quando nos corresponde e iso só pode darcho a tua vicinhanza e os amigos da turma e
dos jogos, incluido, se calhar, o teu mestre, ainda que o meu era tão burro e
arrogante que nunca dava valor a ninguém e menos a um rapaz, e iso que a sua vida estaba adicada
a educâ-los. Embora isto não tinha nada de personal contra mim, era o habitual. Eram os tempos que havia
coas suas miserias e as suas teimas. Eu era um miudo de nove anos, moi
responsável e educado, mas um miudo. Só comvém recordarmos que naquela altura,
os sesenta do século pasado, nas aldeias os nenos e os cadelos
eramos os que menos crédito tinhamos, ninguém nos fazia caso e o pior era que
faziamos estorvo por qualquer lado. Marcha dahí rapaz, ou marcha can,
eram frases moi concorrentes no andar diario, e as duas moi parecidas. Os cadelos e os rapzes andavamos à solta na procura de comida os cadelos e de aprendizajem e curiosidades nós. O caso que tanto uns como outros andavamos atravessados por qualquer sitio. O mundo era uma aventura porque andavas no mundo de aventuras proibidas o que fazia de um rapaz um "antisistema" precoce. Hai que
ver como mudaram as mentalidades, especialmente para o tratamento os cadelos.
Bom, ainda que tinha o ar fungar-me o
avesso eu seguia na minha lavoura de andar o apanho de comentarios e nformações por qualquer
lugar onde podía e me deixavam. Qualquera estará a pensar que tal vez se perdeu
para futuro um aproveitado jornalista de
rua, também um espião podía ser, ou um policía investigador, ou incluso um escritor
de historias policíacas. Qual for o papel a representar a mim não me
importava, a minha fantasia admitia todos ises e moitos mais.
Voltando ò fio da minha lavoura investigadora
profesional, engadir que eu ia e vinha, escoitava moito e em troques cada vez falava mais pouco pois já dei por perdida a minha teima de pensar que alguém me fizera caso, como já dixem ninguém
me ouvia. Perdia-me pelos arredores do quartel da
Garda Civil, olhava para os pequenos dous cavalos azuis que traiam a aqueles
oficiais tão elegantes e tão bem fardados que andavam com chamado
tricornio que parecía de pexiglas negro como carvão e que brilhava como um
esplho cando lhe dava o sol. Aquele de bigode dalí é o capitám de Xinzo, ese outro do cabelo
branco e o Tenente, aquel mais jovem já é capitám e dizem que vem de Madrid,
seica vai ser o investigador do caso. A gente común não se atrevia a acercarse
a quela pequena cimeira de homes fardados e cheios de estrelas.Os rapazes
temos nisso ventagem e até que nos dessem o punteirolo correspondente
achegavamo-nos diante mesmo deles. Todos as olhadas iam pro capitán novo, era o mais
alto e elegante e a sua juventude e presenza destacavam no grupo, era coma a
estrela especial. Despois de noite já na casa, o meu pai o tempo que dava conta
duma salada de tomate com bachalhau desalado e cruo ia falando coa minha mai e
uma vicinha de tudo isto e dizia que chegara um capitán novinho que vai
investigar ele tudo; que os gardas andavam nervosos, pois não estavam
acostumados a ter um oficial e tão fino aquí com eles, não sabem ainda cantos
días, e tenhem medo que lhe apreta um pouco as cinchas, é um dizer. O meu
pai era uma boa fonte de informação, pois como Garda Forestal tinha certa
confiança e achegamento os gardas do povo, ele agora no verão estaba
pouco na casa e a noite cando chegava ele contaba cousas que a mim me serviam
para ratificar o que houvira ou para acrescentar as minhas informações. Engadia moito o meu pai a fonte de onde lhe vinham os comentarios, ou seja o nome do fulano que lho dixo, as vezes não dizia o nome por mim e engadia o comentario do de "marras" que era a forma de entenderem-se entre ele a minha mãe e a vicinha pra não ter que dar nomes. Tardei eu em dar-me conta que o tal "de marras" não se refería a um personagem concreto que eu até incluso imaginei com rostro e todo. O " de marras" vinha a ser uma contrassinal que se dava a varios e que utilizavam para não dar nomes. Agora para dar maior realce a sua informação deu o nome do garda Baralhobre que lhe falara acerca de que o tal capitám era de Academia e que levava uma excelente carreira, pois era
moi novo e estaba recem ascendido;engadu que era moi educado e cercano os gardas e que era
deiqui, queria dizer galego e da provincia de Ourense.
Un dos
principais lugares que eu tinha para informa-me era os arredores do café do
Pepinho, e o estanco e central telefónica ambas regentadas pelo senhor Luciano. Pelos meios-dias
achegaba-me a beirrarua de pedra na estrada que cruza o povo, diante
do café do Pepinho, que era o senhor alcalde daquela. Alí fincado
na grande janela que daba a estrada escuta-va as conversas das mesas de fora e
as de dentro mais pertas o exterior. Nesta pequena zona vip de mesas jogabam a
partida as pessoas mais ilustradas de Baltar. Emtre aqueles cabaneiros havía
funcionarios do do concello e da Irmandade de labradores, pequenos comerciantes
do povo, o senhor Secretario do concelho, pequenos caciques e
representantes daquel poder político.
Era também habitual a companhia dos curas de Baltar e Tixos ou incluso da
Boulhosa, catro ou cinco gardacivis, algúm ricote de qualquer povo da contorna
que de vez em quando acercambam-se e se deixavam ver pola capital;
incluso algum viaxante de comercio de Ourense ou Xinzo que gostava também de
deixar-se ver. Aquele café do Pepinho no verão, principalmente, era o pulmão e
coração da vida social de Baltar, onde como vulgarmente se diz se cozia o
bacalhau. A estrada principal pasava diante justo dele e a sua ubicação no
centro mesmo daba-lhe um ar de pazo
presidêncial que atraia a olhada de qualquer viaxeiro que por alí passava. Eu,
alí andava abeirado a uma esquina e quase invisível complacia a minha
curiosidade amplamente, pois naquelas longas partidas de verão a élite social e
mais ociosa gostava partilhar comentarios varios, brincadeiras,
murmurações, em fim tudo mergulhado com risadas, gargalhadas, café e uns
copos de aguardente ou para quem puder uma de brandy. Algumas vezes quando o
tema era um bocado embaraçoso, algúm olhava para mim e baixa-va o tom de voz,
um pouco, especialmente se havia um comentario picante no sexo ou alguma
murmuração que aquele mocoso de nove
anos podía andar a contar por ahí adiante. Convencidos, na maioria das
vezes de que o rapaz não se enteirava eles seguíam à sua a latricar daquí
e dacolá.
Houve neses dias muito palavreo,
moitos fala-baratos dados a lábia, embora pouca sustancia nova e
interesante quitava eu de tales palavreos. Ou seja todos pareciam saberem
coisas aliás ninguém na realidad sabia nada. Nem na casa, nem no café,
nem na rua tirara eu informações completas e verosímeis sobre o caso. O final
fiquei co relato simples é oficial da rua o que andava de boca em boca. Um homem
(ou dous diziam alguns) veu duma das aldeias próximas de Portugal de Semdim ou
Padornelo.Chegou de noite e apostado com
uma escopeta ou uma pistola no combarro que está na outra beira da rua a a cem metros da porta da entrada principal da
casa , disparou sobre a cabeça do chofer quando estaba justo a abrir a porta da
casa depois de virem ele e a familia de
passear e cear fora da casa. O motivo umas dividas por contrabando que un
fornecedor português, que viviria em Semdim ou Padornelos, não conseguia
cobrar. Algúns diziam que eran seguro dous, outros diziam que não era todo tão claro
como parecia que aquí devía haver misterio. Outros, conhecedores do mundo
do contrabando, atestigavam que numca ouviram falar do Carlos relacionado co
nenhum tipo de comercio proibido.
A verdade, hoje podia pensar-se
que eu era uma criança, aliás eu poso dizer que tinha mais cabeça
do que qualquer adulto naquela altura me podia supor. A minha situação de
insignificante menino de aldeia, rueiro indiscreto e inquieto, permitia-me
escutar tanta variedade de ditos e falas e o mais interesante era poder
partilhâ-la e comentâ-la coa rapaziada que sim dava valor o que lhes contaba o
tempo que ademiravam tão suibstanciosa informação, isso sim um poco adubada de exagero e um algo de fantasia.A informação
também era poder daquela.
Mas voltando as minhas
pesquisas só dizer que naquela semana o relato popular não mudou. O capitám que
junto com um cabo ajudante vieram de Madrid seguía alí. Era já quinta
feira ou xoves, o assasinato fora um luns a noitinha e já na terça feira de
tarde no solpor estava em Baltar. Leva dous dias já aquí e o seu coche anda bulindo
dum lado para o outro, faz-se moito visível. Eu mesmo o vim fazer
unhas caminhadas cruzando o povo pola Aldeia de Abaixo tirando por Casaldeite
em direção a Penagudo em direção a serra por onde diziam ou todos
supunham era o caminho de ida e volta seguido por os dous portuguêses. O
caminho mais provavel era que seguise o río até chegar a Rousia ( um
antigo povo em ruinas na beira da serra) e dende alí seguir por carrouchos e
corredoiras de contrabandistas e gandeiros que vão cruzar a fronteira e já uma
vez chegados alí deixarem-se cair pra Semdim, Padornelo ou Padroso. E se o ou
os assasinos não eram de nenhum dos povos que abrange o concelho de
Montealegre?. E se chegarem a fronteira se desolocarem de carro até eu
que sei qualquer lugar de Portugal que não tiver nada a ver coa zona dos povos
citados?. Seja como for estou seguro que o capitám investigador estava a
dilucidar todos estes meus supostos e algum mais.
Um outro lugar clásico
para tirar informação eram os sentadoiros de pedra cinzenta e milenaria
que estão diante do estanco do senhor Luciano. O estanco era também pequena
taberna e a central de teléfonos do povo. Estava abeirado o café do Pepinho, o
lado da grande janela da que já falei. O senhor Luciano, que fora
garda civil, regentava este complexo negócio pelo que circulava a
diario uma boa massa de gente. O dono era um bom conversador e gostava,
como se de um espião amigável se tratase, de saber as primícias noticiosas de
todo tipo que por alí e arredores se dessem.Ninguém estava melhor informado que
o senhor Luciano do estanco, iso sem dúvida nenhuma. Alí na sombra duma
daquelas tardes quentes vi sentados o senhor Luciano e a dom Calixto, cura
párroco da Boulhosa o povo com mais população do concelho, já perto da
fronteira e zona de bons contrabandistas. Eu fui acercando-me cum meio
colubrear, sem acercarme moito mas o suficinte pra escutar alguma cousa. Eles
estavam a rematar uma conversa que falava da monarquía e a quem Franco faría
herdeiro e mais do carlismo, cousa que eu não comprendia, evidentemente. Já num
momento o senhor Luciano foi a pescuda de informação, e interrogou a dom
Calixto sobre o tema que andava em boca de todos. Dom Calixto coa confiança que
lhe dava o seu interlocutor, estendeu-se em conjeturas, informações e
suposições.