Matarom o chófer.
Baltar 1965
Ouvi uns estralos fortes, tal vez dous, uns estalidos secos. Seríam tiros?
Seríam, se cadra, a verdade, eu numca ouvira algo assim. Um som na quietude da noite, que estreme-ce o corpo dum rapacinho de nove anos que vem da taberna da Senhora Herminia de ir a buscar, por urgência , uma cuartilha de vinho. Aquel son vinha na direção das minhas costas, da rua que vai pro Eiró, pela zona da casa grande que chamabam de Don Leopoldo, na que vive de aluguer o Carlos o chófer da línea”. Eu estaria coma cem metros de onde saiu o estrondo feito pela detonação. Tremim coma uma vara verde, e votei a correr cuartilha em mau, pela rua da Adreira em baixo até chegar o patio da nossa casa. Subim as escaleiras, de pedra, da casa a toda carreira. Cheguei o comedor no que estavam ceando o meu pai e os seus invitados. Dez labradores que aquel dia andiveram fazendo-nos o carreto da lenha. Dez carros de lenha de carvalho que o meu pai andivera a procurar na Serra do Larouco lá pelo lugar que chamam Rei-de-Miro. Estavam todos moi animados e contentos, falavam en tom moi alto e baralhavam. A boa ceia que lhes fizera a minha nai, o sopor daquela noite quente e vadia, junto do cansaço do dia, o caso é que deram conta de todo o vinho que havia previsto na casa pra este jantar. Essa foi a causa da minha saida tão tardía pra taberna, pois a senhora Herminia ainda acostumava a ter aberto numa noite assim de verão. Eu era a o maior dos irmaus e por tanto devia ser o mais responsável deles, o que me obrigava a estar acostumado os mandados e as ajudas pra casa. A misão encomendada era moi importante e fora-me recomendado que a fixera com rapidez e com segurança, não fora a cair coa cuartilha de vidro no chão, no medio da rua. Aqueles homens não podíam quedar sem vinho pra arrancadeira, que é cando sem querer caem ainda uns quantos copos demais.
Cheguei, co afogo proprio da pressa e do medo, poussei a tão apreciada mercancia e sem mais encaminhei-me pro comedor.Tentei dirixir-me aquel barulheiro parlamento tronitruante, e coa voz abafada dixem-lhes olhando para todos:
- Algo passou. Ouvim um son moi forte perto do Eiró, coma se fosse um tiro. Algo passou onda casa de don Leopoldo. Eu votei a correr, asustei-me. Pareceu-me ouvir um tiro o algo parecido.
Mas, pelos vistos, não supe fazer-me ouvir. Alguém me ouviu mas não lhe deu importancia, aqueles bêbedos estavam noutro situados noutro patamar. A palavra dum rapaz não tinha daquela moita relevancia. Eles não ouviram nada, evidentemente, pois com aquela barafunda alí não houverão ouvido nem um bombardeio. Eu fseguia asustado e intrigado pelo que ouvira e como é natural fui buscar acougo entre a mina nai que me prestou mais atenção que os outros, mas estava moi ocupada em que tudo fosse um bom convivío para agradecer a disponibilidade daqueles vecinhos. Ela ouviu-me e deu-me as minhas atenções, mas ahi ficou todo.
Passáriam, nem escasos cinco minutos quando lá chegar a casa berrando, com lamentos e choros, a senhora Eulogia.
- Onde está o Pepe, ay Deus nos valia. Matarom o Carlos o chofer da Línea.
A senhora Eulogia era tía do Pepe Celeiro, da familia dos celeiros, um dos carreteiros que nos acompanha. Ela e vivia em familia com ele a a sua esposa, alí perto de nós e entre nós e a casa de don Leopoldo . Evidentemente aquel som no meio da noite chamou a sua atenção e sairam a mirar que era o que passava.
As palavras da senhora Eulogia paralizarom o auditorio dos carreteiros. Um silêncio apoderou-se do comedor. Um silêncio moi breve, pois de repente, todos a vez, comenzaram falar em voz alta e a proferir frases soltas inátendiveis, misturadas com blasfémias e palavras de indignação. E como se tivessem a obriga de vingar ou solucionar uma conducta indecente.Figerom ademan de se levantarem como pra sair diretos o enfrontamento cos assassinos.Embora não sei que prudência ou medo lhes entrou que ficaram na estância.Tal vez lhes entrara a lucidez de pensarem que os tales assassinos não ficariam alí esperando à descoverta que viera qualquera.
Eu naquel instante comprendi que fora testigo de algo importante e não queria deixar escapar a minha oportunidade de aproveitar o protagonismo que da ser testemunha directo de algo tão interesante. Já me vía o centro das escoitas nas pandilhas, na turma e ainda na propia casa. Ninguém ia poder contar nada como o que eu vivim. Não o pensei duaz vezes, aproveitei aquela barafunda de duvidosos e prudentes, saim correndo da estancia para chegar antes que ninguém o lugar dos feitos, a casa de Don Leopoldo que era onde vivía o Carlos. A curiosidade pudo em mim sobre o medo e só recordo que subim por as escaleiras de fora que conduce a uma varanda que remata num pequeno corredor.Havia pouca luz na varanda ainda que a corredor e a estância estavam bem iluminadas. Alí naquel intre não vi a ninguém, ouviam-se choros e frases no interior, cando eu cheguei a porta da entrada e ali no chão estava morto, o chófer da línea. O Carlos estava imóbil, boca arriba cos olhos abertos olhando para o infinito e um relogio roto no pulso. Lá dentro estariam a sua joven mulher e um meninho de apenas tres anos. Juntos vinham de dar o seu paseio habitual das noites do verão.
Tivem sempre essa imagem na minha vida. Recordo que alguém me votou de alí e marchei correndo de novo para a casa, e contei-lhe os meus pais que eu o vira tirado no chão, e estava boca arriba. De noite em sonhos comencei a berrar num ataque de ansiedade e recordo o meu pai calmando-me e espertando-me daquel mal sono.
Esta historia é real, ainda que pudesse parezer fantástica. Era lá pelo 1965. O Carlos era uma pessoa joven, que aparecerá fazia pouco tempo no pobo como chófer da Línea do Auto Industrial. Era o chofer da Línea. Era assim como chamava-mos o transporte coletivo da Empresa "Auto Industrial" que fazia o trajecto de Baltar até Ourense por Celanova. A Línea saia de Baltar as sete da manhá e voltaba a Baltar as oito da tarde ou noite. Já fosse Verão, já fosse inverno isse era o seu horário.
Quem pudo e porqué fazer tal cousa, alí diante da mulher e o filho ainda pequenote, num povo tranquilo onde passavam moi poucas cousas? No día seguinte só se falava da morte do Carlos por um tiro de escopeta. Eu ouvia aqui e ali, e ia fazendo o meu reportagem mental. Em conclusão, dos ditos que iam de esquina em esquina, eu tirei a historia de que dous homens portugueses, ou tal vez um só, de Padornelo ou Sendim apostados no combarro que está o frente da casa de don Leopoldo dispararam-lhe o chofer e matarono. Dizem que foi por um assunto de cartos de contrabando. Que o chofer utilizava a Línea para levar contrabando variado até Ourense. Dizíam que ele ja fazia temo que não lhe pagara o valor do suministrado o seu provedor de Portugal. Alguém já os vira discutir por este assunto e que a actitude do chofer era arrogante co português, incluso dando a entender que não lhe ia pagar ou que nada lhe devia. Que alguém aquela noite despois de ouvir os tiros vira como dos homens fuxiam aproveitando a noite caminho da serra coa intenção provável de acadar fronteira quanto antes.
Tudo eram informações apanhadas por un rapacinho, eu, moito desperto e que gostava ja de aquela de historias de intriga e trhiller. E neste caso sentia-se protagonista da historia, pois ele foi un dos primerinhos que viu o morto e ainda mais estava moi perto do momento que aqueles homens do outro lado da raia dispararam a arma ou as armas.
....... continuará.
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