«Meus
senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os
estados sociais, os corporativos e o estado a que chegámos. Ora, nesta
noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos! De maneira que,
quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto. Quem for
voluntário, sai e forma. Quem não quiser sair, fica aqui!»
Encontrei por um acaso no blog "entre as brumas da memória" que hoje cumpriria 78 anos, de viver, o Capitão de Abril , Salgueiro Maia.
Tenho falado muito dele já neste blog e dado informação o respeito. Mais uma vez o minha admiração quem coma mim viviu a sua vida na milicia, em ambentes e condições moi distintas. Mais uma vez o meu reconhecemento como militar que foi e cumpriu co seu dever.
No cabeçalho deste post as palavras que de madrugada dirigiu os componentes da sua compañia em Santarém pra deslocar-se dalí o Terreiro do Paco em Lisboa. os 240 homens baixo o seu mando todos deram um paso a frente para sairem, coa sua liderança, na incerteza daquela noite. E despois passou o que passou.
O Salgueiro Maia, quando lhe dei a missão, avisou-me de que os
soldados só tinham uma semana de recruta, não sabiam dar tiros.
Disse-lhe, não faz mal, a tua coluna vai ser a coluna isco, traz a maior
quantidade de material de combate que puderes, Chaimites, M47,
Panhares, MBR, os soldados de capacete, metralhadoras e espingardas
automáticas, munições, tudo. Quem vai opor-se a uma coluna dessas?
Ninguém sabe que os soldados não sabem disparar. Vais à 2ª Circular,
fazes o Campo Grande, Pequeno, Avenida da República, Saldanha, Marquês,
Restauradores, Rossio, e montas o arraial todo no Terreiro do Paço.
Ficas à espera. Se por acaso estiver o ministro do Exército no gabinete,
vais prendê-lo. E vão lá todos ter contigo, a GNR, a PSP, a PIDE, a
Legião, e a Cavalaria 7 e Lanceiros 2, se não apanharmos os oficiais
antes.
O Movimento correu riscos muito grandes. eu não tinha bem a noção do
inimigo, não tinha sido feito nenhum estudo de situação. A GNR tinha
acabado de receber 25 viaturas-choque.
...) O Silva Pais diz-lhe que (...)
o melhor é ir para o comando da GNR no Carmo. Fiquei a saber onde
estava o Marcello. Às 5h30, o Salgueiro Maia diz-me, via rádio, que
precisa de um oficial superior lá. Porque o ministro do Exército está no
gabinete, tudo isto em código. Óptimo, vai prendê-lo. E ele diz-me, não
posso, porque o Regulamento Militar diz que um oficial-general só pode
ser detido por uma patente mínima de major e eu sou capitão. Que raio,
no meio de uma revolução vem-me com isto. Mandei-lhe o tenente-coronel
Correia de Campos. O Jaime Neves estava no posto de comando com missões não cumpridas e
pediu-me para ir também. Quando lá chegaram, o general Andrade e Silva
já se tinha pirado pelo buraco que tinha mandado abrir pela Polícia
Militar, que lhe fazia a segurança. Abriram o buraco com as lanças
expostas no museu. Piraram-se numa viatura civil para a Calçada da
Ajuda, Lanceiros 2.
Às 11 da manhã, o Salgueiro Maia pede-me outra missão porque o
Terreiro do Paço estava cheio de gente que subia pelos carros de
combate, perdia-se o controlo. Disse-lhe, Charlie 8 reorganiza a coluna e
abandona a missão, sobe ao Carmo e cerca o comando-geral da GNR porque o
coelho está na toca. O indicativo do Marcello era Coelho. Com o cerco montado, às 12h30 resolvo fazer um ultimato ao comandante
da GNR, Ângelo Ferrari, que tinha sido meu professor na Academia
Militar. Digo-lhe que falo do Posto de Comando do Movimento das Forças
Armadas. Ele chama-me camarada e eu digo que não me chame isso porque
não somos camaradas. Estamos em trincheiras opostas. Dou-lhe 15 minutos
para abrir o portão do Largo do Carmo e deixar sair o Marcello. Ele diz
que o Marcello não está lá.
Desliguei e contactei o Salgueiro Maia. Charlie 8, fiz um ultimato.
Se não acontecer nada dentro de 15 minutos, preparas as metralhadoras e
vais partir os vidros das janelas do 1º andar. E o Salgueiro Maia diz-me, isso é despesa, depois quem é que paga isso? Não te preocupes, alguém há-de pagar. Passado um quarto de hora, ele hesita ainda. E eu, quero ouvir essa rajada, quero ouvir os vidros a partir, vamos embora! Até que ouvi estralejar, os vidros a partirem. Hoje sei, através de um livro do major Nuno Andrade, oficial da GNR
que estava lá, que aquilo foi decisivo para a rendição do Marcello.
Antes já havia uma tensão monstra, com o megafone do Salgueiro Maia e
o aparato. O Marcello telefona para casa do Spínola para se render. Os únicos tiros disparados por nós foram esses. Quando o Spínola me pergunta o que fazer com o Professor Marcello
Caetano, disse-lhe para combinar com o Salgueiro Maia, tínhamos um
Dakota no aeroporto para o levar, com o Tomás, para a Madeira.
(...)
Salgueiro Maia fala sobre a rendição de Marcello Caetano
Ele foi quem ocupou com a sua companhia o Terreiro do Paço, os ministérios e depois no quartel do Carmo pede a rendição do primeiro Ministro Marcelo Caetano. Foi a face mais visível da revolta dos capitães de Abril. As imagens da Lisboa ocupada são as imagens da revolução que ficaram para à historia e neste filme, do tempo contado, brilha a figura e a valentia do capitão Salgueiro Maia.
Antes de que a nossa imagen se encontrara com Salgueiro Maia, lá , na meia noite em Santarém no quartel de Cavaleira onde tinha o seu destino, Salgueiro começou a escrever a historia. A tropa, a companhia que el comandava, estava a durmir, como mandava o regulamento. Ordenou acordar lá pelas tres da mahã. Naquelas horas, mandou formar a companhia e falou-lhes, olhos nos olhos a sua tropa. O seu discurso simples e directo foi algo assim: "Há estados socialistas, há estados democráticos e há o estado o que nos chegamos em Portugal. Esta noite irmos acabar com o estado o que chegamos em Portugal, quem quiser vir que deia um passo a frente quem não quiser vir pode ficar cá." Todos sem eshitar deram o passo a frente, dando em silenço o apoio pedido pelo seu capitão. Já preparadas as viaturas e o seu equipamento, a companhia inicia o percurso lento para ser delocar de Santarém a Lisboa. Eles antes do sôl nascer estarão a ocupar o Terreiro do Paço e arredores.
Ele é o mais puro símbolo da coragem e generosidade dos capitães de Abril.
SALGUEIRO MAIA
Militar, capitão de Abril: 1944-1992
QUANDO TUDO ACONTECEU...
1944: Em 1 de Julho, nasce em Castelo de Vide, Fernando José Salgueiro Maia, filho de Francisco da Luz Maia, ferroviário, e de Francisca Silvéria Salgueiro. Frequenta a escola primária em São Torcato, Coruche. Faz os estudos secundários em Tomar e em Leiria. - 1945: Termina a 2ª Guerra Mundial. - 1958: Eleições presidenciais. Delgado é «oficialmente» derrotado por Américo Tomás. - 1961: Começa a guerra em Angola. A Índia invade os territórios portugueses de Goa, Damão e Diu. - 1963: Desencadeiam-se as hostilidades na Guiné e em Moçambique. - 1964: Salgueiro Maiaingressa em Outubro na Academia Militar, em Lisboa. - 1965: Humberto Delgado é assassinado pela PIDE. - 1966: Salgueiro Maia apresenta-se na EPC (Escola Prática de Cavalaria), em Santarém para frequentar o tirocínio. - 1968: Integrado na 9ª Companhia de Comandos, parte para o Norte de Moçambique. - 1970: É promovido a capitão. - 1971: Em Julho embarca para a Guiné. - 1973: Regressa a Portugal, sendo colocado na EPC. Começam as reuniões do MFA. Delegado de Cavalaria, faz parte da Comissão Coordenadora do Movimento. - 1974: Em 16 de Março, «Levantamento das Caldas». Em 25 de Abril, comanda a coluna de carros de combate que, vinda de Santarém, põe cerco aos ministérios no Terreiro do Paço e força depois, já ao fim da tarde, a rendição de Marcelo Caetano no Quartel do Carmo. - 1975: Em 25 de Novembro sai da EPC, comandando um grupo de carros às ordens do presidente da República. - 1979: Após ter sido colocado nos Açores, volta a Santarém onde comanda o Presídio Militar de Santa Margarida. - 1984: Regressa à EPC. - 1989-90: Declara-se a doença cancerosa que o irá vitimar. É submetido a uma intervenção cirúrgica. - 1991: Nova operação. A última. -1992: Morre em 4 de Abril.