RETALHOS
DO LIVRO DA MARGARIDA REBELO PINTO .
VOU COMTAR-TE UM SEGREDO
Últimamente
têm passado muitos anos.
Como
sou um rapariga normal, hoje sai da casa e apeteceu-me comprar um peixe.
Do
que eu precisava mesmo era de um bicho
pacato que fosse barato e desse pouco trabalho. Com que eu pudesse
desabafar as minhas mágoas e me olhasse com complacência e solidaridade, sem , no
entanto, precisar de pronunciar uma única palavra. Que me desse cor e movimento à vida e até quem sabe, algum conforto, mas que não deixasse a tampa do retrete
para cima, pêlos da barba no lavatorio e
meias sujas enroladas como bichos.
Se
calhar tambem me deu para comprar o peixe, que é onde ele está.
Mas
sem amor , sem esse fogo que arde sem se ver, sem essa ferida que dói e não se
sente, que sabor tem a vida, reduzida ao
papel de jornal que se lê todas as manhãs para fingir que até nos interessamos
pelo que se passa no mundo ?
Achem-me
romântica, exagerada, adolescente tardia, infantil, o que quisserem.
Tudo
isto para encontrar o meu príncipe encantado, que deixava pêlos da barba no
lavatório e as meias enroladas como bichos de conta ao pé da cama.
Mas a
vida atropela-nos de súbito e quando damos por isso, já mudou tudo. Olhamos
para tras, percebemos que se fechou um ciclo e que nada será como dantes.
Chumbado
duaz vezes o latím por causa dela. Ela era uma grande seca. …é que mesmo sem
teres ido naquela tarde ao são Carlos, não deixaste de entrar na minha vida.
Que
raio terás tu visto em mim,que não sou alto nem bonito. Que tenho um aparelho
nos dentes e trabalho mais do que Deus manda.?