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domingo, 17 de mayo de 2020

E se a nossa língua estivesse a morrer?

    Marco Neves, comprendendo  e empatizando cos galegos. Poucos portugueses tenhem o conhecemento do que é a Galiza e a sua lingua. 

Peço ao leitor que imagine uma verdadeira catástrofe linguística em Portugal: o português é ainda a língua mais falada no país, mas há outro idioma a invadir as conversas. As gerações mais velhas falam, maioritariamente, português, mas os mais novos cada vez menos. Nas cidades, o outro idioma está espalhado por todo o lado e poucos conversam em português. Em muitas vilas, ouvimos português na boca dos adultos, mas as crianças já brincam na outra língua. Todos aprendem português na escola, mas usam-no cada vez menos. Pondo números à catástrofe: cerca de 70% dos falantes com mais de 70 anos falam português; mas entre as crianças até dez anos, apenas 20% usam a nossa língua. O que diríamos? Diríamos que a língua estava a caminhar para o desaparecimento. Quem se importasse com ela ficaria seriamente preocupado — não que a vida noutra língua não seja possível, claro está. Mas a nossa língua, a língua dos nossos avós, da nossa literatura estaria a desaparecer. Seria, de forma contida, algo triste. Seria uma perda cultural irreparável. Uma catástrofe cultural.
Ora, é isso mesmo que está a acontecer na Galiza: os números que acima referi são reais, mas referem-se ao uso do galego no próprio território onde é a língua própria — e oficial, em conjunto com o castelhano. Todos os galegos aprendem galego na escola. Mas, em casa, é muito habitual termos avós que conversam entre si em galego e netos que conversam entre si em castelhano. Todos sabem as duas línguas, mas o uso é muito diferente de geração para geração. Quem se preocupa com a língua galega, na Galiza, está inquieto. Mais do que inquieto!
O galego tem outro problema. Durante séculos, não foi oficial: só nos anos 80 do século XX se tornou língua oficial, apesar de sempre ter sido a língua da larguíssima maioria da população até então. Ora, na época em que passou a ser a língua da administração galega, havia duas correntes: alguns especialistas defendiam que o galego era uma língua separada de todas as outras e que deveria usar uma ortografia e uma norma que, nas suas escolhas, a aproximavam de certas opções do castelhano. Por exemplo, o uso do «ñ» e do «ll». Uma outra corrente defendia que o galego devia aproximar-se mais do português — afinal tanto o galego como o português descendem duma mesma língua medieval. Esta última corrente, chamada reintegracionismo, defende, no fundo, que o galego e o português são variantes da mesma língua. Um dos grandes defensores do reintegracionismo, nessa época, era o filólogo e escritor Ricardo Carvalho Calero. Carvalho: era mesmo assim que ele escrevia o seu nome nos últimos anos, com uma ortografia muito próxima da portuguesa. Neste vídeo, vemo-lo a defender o galego com um sotaque muito diferente do nosso, mas com palavras e frases que mostram bem como o galego está próximo do português (atente bem nas palavras, não nos sons):

Nos anos 80, acabou por vingar a perspectiva que defendia o galego como uma língua separada do português — embora mesmo nesta corrente o português sempre tenha sido visto, em teoria, como boa fonte de vocabulário. O reintegracionismo, no entanto, não morreu, mantendo-se como corrente minoritária. É possível encontrar livros publicados tanto na ortografia oficial (uma larga maioria) como na ortografia reintegracionista. A relação entre os dois campos foi tensa durante muito tempo. Uns e outros defendem o galego e o seu uso, mas têm ideias diferentes sobre como proteger a língua.
Ora, apesar da diminuição do uso, o galego enquanto língua de cultura e literatura é reconhecido todos os anos no importantíssimo Dia das Letras Galegas — que é sempre no dia 17 de Maio. Todos os anos é escolhido um escritor ou figura galega que sirva de tema para as comemorações oficiais. Durante o ano, a Televisão da Galiza, o Governo Galego e as várias instituições da região organizam exposições, documentários, programas e tudo o que for possível para divulgar a figura escolhida. Previsivelmente, as figuras escolhidas não costumam estar enquadradas no campo reintegracionista.
Até este ano. A Real Academia Galega, instituição que regula a norma oficial da língua — norma que não é reintegracionista — escolheu precisamente Ricardo Carvalho Calero como figura de 2020. Este parece ser um passo, entre outros, de aproximação dos dois campos. Todos reconhecem que o galego precisa de protecção especial. Ora, saber que, em galego, é possível comunicar com os muitos milhões de falantes de português ajuda a dar prestígio social à língua.
Em Portugal, pouco ou nada ouvimos falar destas questões galegas. E, no entanto, o galego — em qualquer uma das suas variantes — está muito, muito próximo do português (em especial do português popular do Norte). Ou bem que é a mesma língua ou a língua mais próxima da nossa.
A nossa língua ou a nossa língua-irmã está a desaparecer aqui bem perto, a norte da fronteira. O galego de hoje em dia descende da língua que falavam os primeiros portugueses — e os galegos de então, claro. Faz parte da nossa história. Encontramos por lá palavras tão portuguesas e tão esquecidas como «asinha» (que os galegos escrevem, muitas vezes, «axiña»). Os galegos usam os nossos artigos, muitos dos nossos verbos, têm uma sintaxe arrepiantemente próxima da nossa. Até têm, vejam bem, a «saudade», assim mesmo, escrita desta maneira (também têm a «morriña», porque nisto das palavras há sempre lugar para mais uma).
Por isso, digo: o Dia das Letras Galegas — principalmente num ano em que homenageia um escritor que decidiu usar «lh» para escrever o seu nome e que defendia a aproximação ao português — é também um pouco nosso.
O que podemos fazer? Nada de especial: afinal, o galego só pode ser salvo pelos galegos. Mas podemos ouvi-los com mais atenção, usar a nossa língua quando conversamos com galegos, começar a conhecer um pouco melhor os nossos vizinhos do Norte, vizinhos que — quando não estão a falar castelhano — falam qualquer coisa que se não é a nossa língua é o diabo por ela.





Día das letras Galegas. A lingua galega para Ricardo Carvalho Calero

  A visão futurista sobre a lingua galega que tinha Carvalho Calero, está ainda sem resolver. Já passaram muitos anos desde que ele se significou de como devía ser o fututo. O debate segue,  com a particularidade de que a lingua cada vez esmorece um pouco mais, o idioma deturpa-se e castelhaniza-se  à moreas. Carvalho como outra gente, errada ou não, procurava  que o  futuro da  pervivência da lingua  galega tinha que ser acumulando-se ou adjuntando-se a uma corrente lingüistica evoluida do galego e assentada como lingua no mundo com trescentos millhões de falantes. E isso que na altura que Calero dizia isto não existía internet. Internet hoje valoriza ainda  mais a utilização da grafía portuguesa. 
     Mágoa que tudo fosse politizado por uns e outros e não se visse o debate de forma serea e intelectual. Só queda mentres tanto que o galego normativo contemple as duas formas de escrita, e legalice a outra forma de expressão.  Cousa que paresce muito disparatada e absurda pra a grande maioria, incluida a Real Academia da Lingua Galega. Tal vez, não sei, só digo que todos temos visto na vida cousas absurdas e disparatadas que co tempo chegamos a pensar que a cousa não era daquela maneira. Esta é uma delas.
      Só aquí este pequeno apontamento ou reflexão em memoria do grande mestre Carvalho Calero.

jueves, 14 de mayo de 2020

 Ferrol nos fecit
 nº 276 | maio 20 |TEMPOS NOVOS
 Texto Xavier Alcalá
Como falo así de Ferrol? Acaso a Malata, a Cabana, a Graña e San Felipe pola beira do norte, e Maniños, Perlío e Mugardos pola do sur eran parte da Vila Podre? Érano, porque “tiñan lan-cha”. Nos tempos de Gonzalo Torrente (o máis vello, por meses), Ricardo Carballo (despoisCarvalho) e —non o esquezamos— Ernesto PérezGüerra (despois Guerra da Cal) ocorría o mesmo quenos meus.Eu era “desta banda” e o Xoán Rubia, compañei-ro de aula no instituto Concepción Arenal, da outra. No “insti” os rapaces da outra banda marchaban un cuarto de hora antes na última clase da mañá, e entraban un cuarto de hora máis tarde na primeira da tarde porque ían coller a lancha para xantaren na casa: cousas especiais da Ciudad Departamental, un mi-cro-San Petersburgo feito do nada entre dúas aldeas, a de Esteiro e a do Ferrol Vello.Homes da Ilustración construíron un centro de poder naval inexpugnable, estaleiro de navíos de alto porte, arsenal da Armada e, para acomodar mariños, enxeñeiros e burgueses de compañía (de profesións liberais e comerciantes), trazaron sobre os planos unha urbe de cuadrículas, rúas de Leste-Nordeste a Oeste-Suroeste polo chan; e a 90 graos con elas, as que soben aos altos de Canido. No medio, prazas ca-dradas: a de Armas e a que se dedicaría ao marqués negreiro mais protector de recrutas das Mariña, o de Amboaxe.Os que lean Scórpio, tomen nota da toponimia infanto-xuvenil do personaxe (e do autor), vaian ao mapa e verán que naceu e viviu na fronteira da racionalidade contundente do barrio da Madalena, a tableta de chocolate, coa irracionalidade da antiga vila mariñeira de Curuxeiras (porto) e o Socorro (igrexa de mareantes e pescadores).A Rúa de San Francisco —onde resiste aínda a fábrica de granito da casa natal de don Ricardo— marcaba na miña nenez o descenso das alturas aristo-cráticas da Capitanía Xeneral á pobreza dun barrio de calellas retortas onde secaban follas de maruca xunto con roupas remendadas. Por San Francisco sucedíanse bares nos que servían as cuncas de viño con piñas de percebes de agasallo, e mesturábanse mariñeiros de lepanto e tafetán da “Gloriosa Armada Española” con mariños mercantes de camisa a cadros e pucha. Era rúa de pelexas entre bébedos e —estan-do preto dun cuartel da mariñeiría— nela mesmo había un negocio inmencionable para nenos e damas.Naceu e viviu Ricardo Carballo Calero nunha zona “escura” da cidade? Non. Tiña casas de pedra con galerías “de costureiro” (onde se cosía ao sol) e, no alto, a igrexa impoñente da Orde Terceira de San Francisco. Desde o seu adro, óllase a enormidade do arsenal militar, os navíos de guerra, a ría sucada polas lanchas, a beleza suave da península de Bezoucos e as moles que case pechan a ría, montes daquela aínda marcados de leiras e restos das carballeiras coas que se construíran centos de navíos.Moi preto desa igrexa castrense, reservada a cultos especiais da Armada, están a Capitanía Xeneral e o seus xardíns —os de Herrera— con magnoliosexóticos e a estatua de Jorge Juan, o xenio que conse-guiu, a forza de moi bos soldos, roubarlle ao imperiobritánico os expertos en construción naval que faríande Ferrol (e, en paralelo da Habana) centro de coñe-cemento avanzado, ao nivel máximo da súa épocadezaoitesca.

A familia acomodada de Scórpio / Carvalho tiña consideración tal entre a caste suprema dos mari-ños de guerra, que as nenas podían xogar coas fillas do capitán xeneral nos xardíns da Capitanía; e as “damas de Marina” veraneantes na Cabana de Santo Antonio convidaban a mai putativa do Scórpio ás súas casas (mais ela, por pudor de ascendida de clase, rexeitaba os convites).Torrente dicía que Franco fixo a guerra para se poder vestir de almirante (como Xeneralísimo), esaxe-ración ben simpática do inventor de Castroforte de Baralla. Ricardo Carballo Calero deixou o bacharela-to para preparar o ingreso na Escola Naval Militar, se cadra imaxinándose con uniforme da garda mariña a namorar raparigas pola Rúa Real. Iso marca liñas de vida. Xa sería na miña xeración cando ser enxeñeiro (non “perito”) ou economista se vise con máis voos ca ser do corpo xeral da Armada, e mesmo cando a xente lese a matrícula FN (de Fuerzas Navales) como “Fame Negra” e “Famentos Nós”. Ora, na mocida-de de Gonzalo, Ricardo e Ernesto ninguén tería tal atrevemento...A maioría das familias de Ferrol tiñan algunha relación coas Filipinas, Puerto Rico e Cuba; ha-bía indianos e moito militar que nesas illas estivera destinado. O 98 fora un desastre moral e mortal para a cidade. Ferrol vestira de loito logo da batalla de Santiago de Cuba, mais desde 1908 os estaleiros reviviran coa Sociedad Española de Construcción Naval, a Construtora para o pobo. Volvera o orgullo de ser facedor de barcos; o maior espectáculo da vila era ver “caer á agua” cascos xigantescos de aceiro. Tras das botaduras, a xente cantaba, soaban habaneras e toadas de gaditanos e cartaxeneiros destinados en Ferrol. Obreiros cantores ríanse dos políticos:“Ai, señor Ministro da Mariña,esa escuadra facémola nós.Como se fai un deputado,un acoirazado faise un pouco mellor.”Non había instituto de bacharelato pero si colexios e academias, máis a Escuela Obrera de Construcción Naval, a de Ingeniería Naval y Máquinas e a de Artes y Oficios. Fronte ao Teatro Jofre, que acolleu as arelas poéti-co-musicais do estudoso, funcionaba o “cinematógra-fo” New England. O hotel máis moderno, na Praza de Armas, chamábase Ideal Room. O idioma inglés era máis importante có francés, que se daba por sabido. Como nos tempos de Jorge Juan, por Ferrol circula-ban moitos británicos dos estaleiros. Mais, se no sécu-lo XVIII eran en boa parte disidentes da relixión da Súa Británica Maxestade, no XX traían outra ligazón ideolóxica: a masonería.Nos anos da crecente consciencia de quen aca-baría sendo Carvalho, en Ferrol oíanse moitas falas: andaluza, murciana, cubana, galega, inglesa... e máis as que saltaban dos barcos amarrados no porto. Non é difícil imaxinar o rapaz tan lido a matinar baixo os plátanos no cantón de Molíns acerca dos idiomas; ou ordenando as peculiaridades do galego das criadas de fóra de portas e dos operarios habitantes no barrio de Esteiro.Canto tardou aquel estudante de Dereito en Compostela en comprender que o castelán era o idioma que cumpría aprender e o galego a fala que non importaba esquecer?Cumpría ser moi valente para mostrarse gale-guista en Ferrol, nunha sociedade organizada en castes que mesmo se distinguían polo uniforme, que gardaba memoria de cando o Capitán Xene-ral era “el Jefe Político y Militar de la Ciudad” e o Intendente da Mariña, o recadador de impostos. Que podía significar Galicia para aqueles señores enviados desde Madrid a defender o Imperio? Que significaba para eles o idioma patrimonial do país?Un dos poucos apelidos fidalgos sen deturpar en Galicia é Pita da Veiga, directamente ligado á Mariña; mais non ao idioma. Un almirante con ese apelido xamais falaría galego nin permitiría que o fixese un oficial da Armada. Mesmo así, vería con naturalida-de que o falasen en privado os suboficiais e nel desen ordes aos fandiños, recrutas monolingües, analfabetos. Dese sistema diglósico interno da Armada puidemos dar fe don Ricardo e eu (ollo: fandiño, en boca mesmo de oficiais gaditanos, soa a galego aínda sen rexistrar). Ferrol de procesións da Semana Santa, con armas e galas de uniformes navais, e mofa aos cantantes de saetas (“¡Dádelle unha de callos, a ver se cala!”); cidade onde pobo e elites adoran, xuntos, unha deusa local cristianizada na Virxe do Chamorro; poboación estratificada: mariños, “militares de Terra” agra-decidos ás deferencias dos mariños, “industriais”, médicos, enxeñeiros, algún arquitecto, avogados, profesores, señores do Casino sen bola negra cando solicitaron praza de socios...De 1910 a 1926, esa cidade vería (sen se ver fóra dela) como se multiplicaban e medraban os sindica-tos e as loxas masónicas (unha delas, ferrolanísima, a Breogán nº 16). Tamén viu (e deixou ver de lonxe) a dignificación do folclore galego e a súa ligazón á defensa do idioma (o coro Toxos e Froles acolleu as Irmandades da Fala). O futuro profesor Carvalho calcaba as solas dos zapatos nas lousas enormes das rúas ferrolás e observaba. A partir do 26, na cabeza levaba para circular sobre as lousas de Santiago ideas que alí amplificaría ou rexeitaría; e volvía para Ferrol de vacacións, nun proceso de realimentación que estalaría no verán do 36 en Madrid.Ricardo Carballo Calero non foi mariño de guerra porque un ministro decidiu esixir o bachare-lato aos aspirantes a oficiais. A volta ás aulas “civís”, mesmo co propósito inicial, fixo ao rapaz esquecer a teima elitista ferrolá. Mais se chegase a estar en Ferrol lucindo uniforme azul e galóns con coca no intre aciago do Alzamiento, que partido tomaría? Home rigoroso e formalista, como demostrou con respecto ás leis da lingüística, sería dos poucos que morreron dignamente fusilados por non traizoaren a República á que lle xurara lealdade.Ferrol nos fecit, mesmo divididos en bandos. Car-valho escolleu o perdedor: galeguista, republicano. O universalismo típico dos ilustrados ferroláns faríalle ser lusista, estreitar amizade con Guerra da Cal, e xa sabemos que resultado lle deu.