lunes, 20 de abril de 2020

De vez em quando um livro: VOU COMTAR-TE UM SEGREDO


RETALHOS DO LIVRO DA MARGARIDA REBELO PINTO .
VOU COMTAR-TE UM SEGREDO


Últimamente têm passado muitos anos.

Como sou um rapariga normal, hoje sai da casa e apeteceu-me comprar um peixe. 
Do que eu precisava mesmo era de um bicho  pacato que fosse barato e desse pouco trabalho. Com que eu pudesse desabafar as minhas mágoas e me olhasse com complacência e solidaridade, sem , no entanto, precisar de pronunciar uma única palavra. Que me desse cor e movimento à vida e até quem sabe, algum conforto, mas que não deixasse a tampa do retrete para  cima, pêlos da barba no lavatorio e meias sujas enroladas  como bichos.
Se calhar tambem me deu para comprar o peixe, que é onde ele está.

Mas sem amor , sem esse fogo que arde sem se ver, sem essa ferida que dói e não se sente, que sabor tem a vida, reduzida  ao papel de jornal que se lê todas as manhãs para fingir que até nos interessamos pelo que se passa no mundo ?

Achem-me romântica, exagerada, adolescente tardia, infantil, o que quisserem.
Tudo isto para encontrar o meu príncipe encantado, que deixava pêlos da barba no lavatório e as meias enroladas como bichos de conta   ao pé da cama.

 Mas   a vida atropela-nos de súbito e quando damos por isso, já mudou tudo. Olhamos para tras, percebemos que se fechou um ciclo e que nada será como dantes.

Chumbado duaz vezes o latím por causa dela. Ela era uma grande seca. …é que mesmo sem teres ido naquela tarde ao são Carlos, não deixaste de entrar na  minha vida.

Que raio terás tu visto em mim,que não sou alto nem bonito. Que tenho um aparelho nos dentes e trabalho mais do que Deus manda.?

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