Combinei com a minha amiga Ângela, na praza dos cafés, assim é chamada por nós por uma simples explicação, num largo pequeno há cinco cafés, oficialmente chama-se de Paz Novoa. De vez em quando quadramos os nossos tempos e fazemos calhar à ocasião para tomarmos um café. É um lugar típico , quase de culto, tanto para os que temos o privilegio de trabalhar por os arredores ou para os muitos paseantes diversos, sejam , xubilados, homens de negocios, mulheres ja com anos, ociosos, ou gentes de passo pela cidade. Como a gente gostamos de ir onde há gente, por essa mesma razão há tanta gente.
Pedimos um café no Plaza com as suas mesas antigas de mármore branco e patas de ferro negro na estrutura.Local amplo e reservado com dois andares. Depois das primeiras frases de rigor, e do tempo e já assentados e a sorver na taça do café, começou a contar e a dizer que estava realmente zangada, chocada, e farta de muitas coisas. Há dias, piores que outros, dias nos quais tudo parece cinzento e tudo o que apanhas arredor são coisas que vèm o avesso. Tudo parece revoltado contra um, o será que um mesmo nesse dia parece um termómetro da indignação.
- Não sei onde vamos a ir com este nosso país, Galiza, de merda. Há gente que por vezes parecem mortalhas viventes, outros parecem andar no sono da indiferença e a paisagem humana desta cidade parece o imagem da ultratumba. Será este tempo de inverno, lento e triste o que faz as pessoas assim ou é que realmente nós os galegos somos tal como dizem de nós quando falam de nós?.
Eu escutava e tratava de baixar um bocado o seu torrente depressivo, negativo daquele dia. Ela sabe que não me incomoda essa forma de dizer, de que gosto das pessoas que ficam zangadas e gostam de berrar ou de desabafar o seu enfado. Gosto mais que das que calam e não se manifestam. Então quis dar-lhe pé e perguntei-lhe,
- Embora,qual foi a chispa, a causa que motivou o teu enfado tão forte? Tem que haver alguma coisa, sempre há algo que fere um pouco mais num ? Que é o que te fez chegar o limite da margem da tolerância. Tens que me dizer?
Sorveu um pouco café, sorriu, e lançou ou seu empolgado discurso.
-Não posso suportar as pessoas que estão trabalhando para o público e são dessaboridas, frias e ainda pior não fazem o seu trabalho ou não sabem nada do seu trabalho. São uma maldição bíblica para o cidadão. há uma grande quantidade de gente que ficaria encantada de trabalhar em qualquer coisa e daria um serviço bem gratificante de face o público?
-Concordo contigo, bem sabes, já temos falado disto muitas vezes, mas conta o caso recente que viveste.
-Sim, escuta, fui hoje a bilheteira da estação de autocarros e pergunto-lhe a tipa, é como melhor posso defini-la, se podía dar-me, se faz favor, um pequeno cartaz ou um papel de horários dos autocarros que fazem a línea de Ourense para Pontevedra.
Nem sequer me olhou. Ignorou a minha presença, deu a volta e apanhou um papel que tinha na secretaria e pôs-e a recortá-lo e deu-me o recorte feito. Eu peguei nele e disse-lhe, obrigado. Ela segue lá no seu aborrecido mundo de merda e nem ouviu rés. Olhei o papel branco recortado com letra a branco e preto e perguntei-lhe a que hora llegaba o autocarro que saia de Pontevedra as nove da manha, pois no tal papelinho não constavam as horas de chegada. Pois eu estava a esperar a uma pessoa que chegava nesse autocarro.
A tipa da bilheteira olhou-me e com voz de pita disse-me.
-Yo eso no lo sé, vete abajo y pregunta a los de abajo, yo solo tengo los horarios de salida.
Só lhe faltou acrescentar a linda frase, a mi que me cuentas no es mi problema, yo digo lo que me dijeron , vaya.
Tudo adubado cum sotaque de galego pailán falante de castelhano, que lhe dava um tom cómico.
Sai dali zangada, olhando o que fazer Virei as minhas costas a tal palerma e baixei as escadas para esperar o autocarro.
Quando o autocarro chegou por volta das onze e meia, e acompanhando a quem eu esperava antes de partir para a cidade fui de novo a bilheteira para saudar a tipa em questão e disse-lhe
-Olha o autocarro que sai de Pontevedra as nove da manha chega aquí as once e meia, por se alguém alguma vez, vem a perguntar-te esta questão. É para que fiques sabida da noticia faz-te um pequeno apontamento para não te olvidares.
Os dois olhamos as nossas chávenas de café, sorrimos e marchamos pensando que há días vulgares na vida da gente, e outros que ainda era melhor não viví-los, mas grazas a Deus a maioria são cheios de vida e de luz e deixan a gente contente.
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