Lendas da minha aldeia: De quando fum sacristám, lá polos meados dos anos 60, e falava em latím.

.....A
missa ainda era em latim pelo o que só se ouvia falar o presbítero
celebrante e mais o seu sacristám. Este posto de ajuda nos oficios
divinos no altar era para um rapaz ou moçote, com preparação em
escritura e leitura o qual não era o mais comúm, já que tinha de
aprender a contestar de memoria os rezos em latim. Isto era assim porque
o sacristám oficial era um homem adulto que
tocava as campás, fechava e abria a igrexa etc. e não dava
aprendido o latim, salvo excepções. A escolha e a preparação do rapaz ou
rapazes no seu caso, era feita pelo mestre da escola que era o que
melhor conhecia as faculdades e sobre todo o tempo que tinha o mocinho para mergulhar-se naquela aventura do latim. Se os pais, como era o mais
comúm, eram labradores o neno à saida da escola tinha o tempo ocupado
para ir coas vacas os prados ou o monte, então o candidato tinha que ser
por força filho dum cabaneiro que tinha as tardes livres pra folgar e
andar à solta de tunante rua arriba rua abaixo. O eleito latinista
adicava días a estudar e a repetir coma um papagaio aquelas preces num
palavreiro que não entendia. Assim cumprindo, eu filho de cabaneiro,
cos requisitos enunciados o mestre decidiu prepar-me para o posto de
sacristam imitador de Cicerón e Tito Livio. Quando a visita chegou eu
andava já de recem sacristám-ajudante do culto e tivera que aprender
aquele librinho numa linguagem bem diferente do castelhano, que se lia
na escola, mas imprecindível para falar com Deus na celebração da
missa. Dende o "Intro altare Dei", o "confiteor", o "Dominus
vobiscum", o "pater noster qui est in celis",o "credo in unum Dei",
até chegarmos o desejado ite missa est, pra rematar e sair. Esta
geringonça, com perdão, acabou tendo para mim um som familiar que mais
tarde passaria a ser, no seminario ,posteriormente , companhia de
viagem da minha vida. Ainda que o passo do tempo e o desuso do latím,
incluso dentro da Igreja, faça parecer que tudo aquel estudio quedou em
fumo e que ficou no olvido. Não obstante, nada é o que parece pois iste posso cultural fica
no profundo do homem de hoje e jovem de então. Enfim, quer se queira
quer não, tudo , seja bom seja mau, contribue na propria formacão e
toda experiência sempre deixa uma pegadaNo meu caso pode ser o gosto
pelas palavras, as etimologías das mesmas e o respeito e
curiosidade pelas diferentes falas ou formas de falar. Seja como for
calha bem o dito popular cando diz que o saber não ocupa lugar, ou seja
que não me fixo mal nenhum o aprender aquela missa em latim. No
obstante, o meu caso co latím não tem mérito nenhum se o comparades co
caso do "Pepe do paxarinho". Era iste naquela altura um moçote que
gostava de contar anedotas, brincadeiras e historias picantes que ele
ouvia e gostava de expor a grupos de adeptos que arredor dele escutavam o
que ele dizia. Mais ou menos como se de um cómico do " club da
comedia" se tratasse", o Pepe repetia os responsos dos enterros
completos, a sua maneira, numa especie de idioma inventado que era o
latim que ele percevia daqueles coros de curas cantando-lhe o defunto
dende a casa até o templo. Quanto mais rico fosse o defunto, mais
responsos tinha. A mais dinheiro por responso mais longo era o cántico
latino. Ou seja a oferta e demanda de toda a vida. Assim pois, eu escoitei o Pepe, por vezes, naquelas assembleias
espontáneas recitar, a peticião daquela clã, um concerto completo responsorial.
- Pepe mandalhe um
responso de cem pesetas, despois um de duascentas e incluso algum de quinientas.
Eu ficava abraiado ou anonadado (que bem sendo o mesmo diga-se como se
diga), co canto gregoriano do Pepe . Nos meus miolos quedaron sempre
fixos aqueles responsos inventados e ainda hoje podia recitar parte
deles. Quando já supem latím e comprobei o que queríam dizer aqueles
preces auténticas e o que eu aprendera do Pepe, não podia conter a
gargalhada. O que aquel homem fabricou na sua mente era uma obra de arte
da linguagem. Algo assim tivemos nós que fazer coas canções em inglês
para cantâ-las, nem em Inglês nem espanhol senão numa lingua nova
inventada.
Tudo isto do latím litúrxico estava ainda no seu apogeu, embora a este
zénit de popularidade quedavam-lhe catro días, ainda que nós nada
sabíamos nem intuíamos. Estava pronto a chegarem os resultados do
Concilio Vaticano II. Estava-se a prepar-se uma grande mudança na
Igrexa, especialmente, e não só, na liturgia. O latím sería um
daqueles cambios. Diziam que havia que falar-lhe a Deus na lingua vernácula ( iste palabrão sonava-me mais a erótico que outra cousa), que os curas traduzirom por castelhano. Assim pois, o Vaticano II andava já no seu remate,
ainda que nós pouco disso sabíamos. Pouco ou quase nada nos falarom
nem na catequese nem na escola nem na predicação dominical diste
assunto do Concilio, no entanto sim foi moi comentada a morte do papa
João XXIII que foi em pleno Concilio. Recordo a foto do papa no jornal
fumando um charuto, coisa que pra figura que eu tinha dum papa já me
fazia destaque, hoxe seria inimaginável. Todos choramos a morte daquel
papa e sentiama-nos orfos e desamparados, ou iso era o que a minha
virginal empatía sentia.
Fazia pouco mataram a Kennedy, agora isto do Concilio, Franco celebra 25 anos de paz, os americanos andam artelhando uma guerra em Vietnam. O mundo está revolucionado, onde chegaremos.
No hay comentarios:
Publicar un comentario
Comentarios: