A moça que vende o bilhete da Once terá uns trinta e mais, e é uma mulher guapa.
Eu paso quase todos os días diante do quiosque onde a moça vende o bilhete do sorteio , o cupom no posto da Once. Ela está lá no seu gabinete, uma pequena casinha de madeira que tem na dianteira a proteção duma vidrça só rota no final pela abertura duma pequena bilheteira. Elá fica acubilhada num pequeno espaço e escuta o murmulho das vozes que enchem a Rua do Paseio pelas manhãs. Ela escuta, não vê. E uma feliz ceguinha com face de felicidade que a natureza dotou duma beleza tranquila, embora privou-na da vista.
Quando me acerco a sua bilheteira ela conhece a minha voz. Gosto de saudâ-la e tentar dizer alguma pequena frase que seja uma brincadeira que ela sempre generosamente agradece co seu rir sinceiro e suave. Só por romper o vazio que há emtre uma pessoa que vê e outra que não vê. É a forma de transmitirmos a interação comunicativa emtre duas pessoas quando uma não pode olhar o sorriso, a face, a maneira de sentir da outra. Com o falar amável e um bocado brincalhão tento trasmitir-lhe uma certa confiança que ela merece. A sua presença não da para transmitirmos pena embora alegría e gosto pela vida e o que ela arranca de nós. Ela não parece numca triste.
O noso encontro só é alguns días da semna e pode durar apenas un minuto que enchemos com pequenas frases o jeito do momento.
- Olá como está senhorita. Então hoje faz calor,estamos a chegar a primavera. Olha-me este bilhete de ontem que eu acho ter o premio.
- Não teve sorte, sinto, acostuma a dizer ela, deixando cair as palavras con lentidão, como para dar-me as condolências.
- Ora essa, pois dar-me-as outro para amanhã, mas escolhe bem. Isto não pode ser.
- Bom espero que esta vez tenha sorte, e da uma pequena risa.
- Adeus, moça, até amanhã. Prepara os quartos que amanhã venho pelo prémio.
Ela fica a rir, despedese e segue serena e feliz no sua oficina, escutando o murmulho de vozes que passam diante dela. Iste é o seu reino e o seu ganha-pão. Numca da queijas do tempo tanto faz que haja frío ou calor. Desfruta no seu posto, escuta passar o mundo que a rodeia, e tem a cara cheia de felicidade.