Há sempre uma altura do ano, cando este ainda fica adormecido pela escarcha do janeiro, em que me pergunto onde vou, e eu respondo invariavelmente, vou dar uma volta a pé. Que é como dizer, já veremos, de momento vamos caminhando. Mas este ano, um mais do Covid, com toda a esperança do mundo resolví ser diferente.
Vou ir, sim, mas vou seguir o sol, acordar bem cedo, à rompida do dia pôr os pés ò caminho, e só me deitar, quando ele também se deitar.
Vou seguir os trilhos, os carreiros, os caminhos, as veredas. Vou seguir a ruta dos ríos, das ribeiras e dos húmidos caneiros. Vou ir dende os ríos pequenos da montanha até chegar as grandes cheias e já nos rios mansos deixar-me levar o grande senhor Atlántico . Vou seguir o meu instinto.
Vou seguir o me bastão, o memo que sempre me acompanhou em todos os percursos e numca me enganou.
Este ano, este ano, quero seguir mirando para lá, para o sul-oeste, de onde chegar-me-a, mais uma vez, a forza do sol, o fresquio húmido, o vento vadío do tempo mol.
Vou seguir a migração das andurinhas, das cigonhas, das grandes bandas de passaradas. Vou espreitar as chegadas das camadas de lobos, espiar o nacemento dos raposos, vixiar nos anoiteceres os porcos do monte à foçar e escavancar até as raízes dos carbalhos, estombalharse na lama dos regatos e brincar a puxar nas paredes seculares de pedra dos lameiros.
Vou seguir a linha duma das zonas costeiras mais perservadas de Europa, brincando e saltando de ría em ría. Vou seguir as ondas do mar até chegar lá, o fundo, o lugar em que em tempos o mundo acababa alí.
Vou seguir o vento salgado, vou seguir os cheiros da terras, das herbas, dos temperos, do peixe fresco e o bacalhau o forno, os olores e a sazon das comidas.
Vou seguir esta e aquela música para ver onde me levam. Vou dançar e caminhar o seu ritmo. Vou andar nas festas e romarias e misturar-me nos ascentros das minhas gentes que me traem o rir e o chorar da nossa historia. Ainda que já não creia hei de acompanhar os devotos da virgem da Saúde em Atás, de Santiago em Compostela, da Peneda, do Cristal e da virgem da Ascensão de Baltar.
Numca vou deixar de seguir os passos e as pegadas deixadas polas gentes doutros tempos, das crenças que deixaram, as lendas e comprender e recordar as suas mitologías que agora somentes parecem um confuso recordo.
E quando o caminho não se veja no horizonte e pareça andarmos à solta, sem rumo, hei de procurar encontrar os pastores, os pescadores e os caminhantes de sempre para encontrar um caminho e seguir caminhando. E nos dias escuros quando a néboa acarinha os campos e deixa o mato pingando, esperar, esperar pra ver aparecer uma raiola de sol, porque um novo día vai agir. E caminhar e caminhar.
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