sábado, 23 de enero de 2021

Caminhar e caminhar . 2021.

 


        Há  sempre uma altura do ano, cando este ainda fica adormecido pela escarcha do janeiro,  em que me pergunto onde vou, e eu respondo invariavelmente, vou dar uma volta a pé. Que é como dizer, já veremos, de momento vamos caminhando.  Mas este ano, um mais do Covid, com toda a  esperança do mundo  resolví ser diferente.

       Vou ir, sim, mas vou seguir o sol, acordar bem cedo, à rompida do dia pôr os pés ò caminho, e só me deitar, quando ele também se deitar. 

      Vou seguir os trilhos, os carreiros, os caminhos, as veredas.  Vou seguir  a ruta dos ríos, das ribeiras e dos húmidos caneiros. Vou ir dende os ríos pequenos da montanha até chegar as grandes cheias e   já nos rios  mansos deixar-me levar o grande senhor Atlántico . Vou seguir o meu instinto. 

      Vou seguir o me bastão, o memo que sempre me acompanhou em todos os percursos e numca me enganou. 

      Este ano, este ano, quero seguir mirando para lá, para o sul-oeste, de onde chegar-me-a, mais uma vez, a forza do sol, o fresquio húmido, o vento vadío do tempo mol. 

      Vou seguir a migração das andurinhas, das cigonhas, das grandes bandas de passaradas.  Vou espreitar as chegadas das camadas de lobos, espiar o nacemento dos raposos, vixiar  nos anoiteceres os porcos do monte à  foçar e escavancar até as raízes dos carbalhos, estombalharse na lama dos regatos e brincar a puxar nas paredes seculares de pedra dos lameiros.  

      Vou seguir a linha duma das zonas costeiras mais perservadas  de Europa, brincando e saltando de ría em ría. Vou seguir as ondas do mar até chegar lá, o fundo, o lugar em que em tempos o mundo acababa alí. 

      Vou seguir o vento salgado, vou seguir os cheiros da terras, das herbas, dos temperos, do peixe fresco e o bacalhau o forno, os olores e a sazon das  comidas. 

       Vou seguir esta e aquela música para ver onde me levam. Vou dançar e caminhar o seu ritmo. Vou  andar nas festas e romarias e misturar-me nos ascentros das minhas  gentes que me traem o rir e o chorar da nossa historia. Ainda que já não creia hei de acompanhar os devotos da virgem da Saúde em Atás, de Santiago em Compostela, da  Peneda, do Cristal e da virgem da Ascensão de Baltar. 

      Numca vou deixar de seguir os passos e as pegadas deixadas polas gentes doutros tempos, das crenças que deixaram, as lendas e comprender e recordar as suas mitologías que agora somentes parecem um confuso recordo. 

     E quando o caminho não se veja no horizonte e pareça andarmos à solta, sem rumo, hei de procurar encontrar os pastores, os pescadores e os caminhantes de sempre para encontrar um caminho e seguir caminhando. E nos dias escuros quando a néboa acarinha os campos e deixa  o mato pingando, esperar, esperar pra ver aparecer uma raiola de sol,  porque um novo día vai agir. E caminhar e caminhar.

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