jueves, 11 de diciembre de 2025
miércoles, 3 de diciembre de 2025
À Rompida do dia, já cumpriu dez anos.
Já cumprimos dez anos. E aquí estamos.
Aquí há uma mistura que não permite dar uma sinal clarificadora do que é o que há. É uma loja, humilde, que tem um pouco de todo o quase todo; é bazar, é mercearia, é tasca e taberna. É uma mistura de cores, de sons. É uma caldeirada de informações variadas e expostas à vontade do patrão da barca, eu. Mais parece que estiver feito para o consumo proprio que para, o que é normal, o consumo do público que por acaso aquí chegue e goste.
Nestes dez anos passarom moitas cousas na vida de um, coma na de quase todos.Só felicidade, nada que lamentar, moito que agradeçer a vida, de forma especial a chegada, nos últimos seis anos, de cinco adoraveis seres, chaman-se:
XIAN, MARTIÑO, ROI, XELA E GAIA.
Porque seja como for, quer se queira quer não, navegar é preciso .
https://www.youtube.com/watch?v=0f9PBsnFmmc&list=RDCwppKJjYReA&index=2
sábado, 29 de noviembre de 2025
Lendas da minha aldeia: De quando fum sacristám, lá polos meados dos anos 60, e falava em latím.
.....A missa ainda era em latim pelo o que só se ouvia falar o presbítero celebrante e mais o seu sacristám. Este posto de ajuda nos oficios divinos no altar era para um rapaz ou moçote, com preparação em escritura e leitura o qual não era o mais comúm, já que tinha de aprender a contestar de memoria os rezos em latim. Isto era assim porque o sacristám oficial era um homem adulto que tocava as campás, fechava e abria a igrexa etc. e não dava aprendido o latim, salvo excepções. A escolha e a preparação do rapaz ou rapazes no seu caso, era feita pelo mestre da escola que era o que melhor conhecia as faculdades e sobre todo o tempo que tinha o mocinho para mergulhar-se naquela aventura do latim. Se os pais, como era o mais comúm, eram labradores o neno à saida da escola tinha o tempo ocupado para ir coas vacas os prados ou o monte, então o candidato tinha que ser por força filho dum cabaneiro que tinha as tardes livres pra folgar e andar à solta de tunante rua arriba rua abaixo. O eleito latinista adicava días a estudar e a repetir coma um papagaio aquelas preces num palavreiro que não entendia. Assim cumprindo, eu filho de cabaneiro, cos requisitos enunciados o mestre decidiu prepar-me para o posto de sacristam imitador de Cicerón e Tito Livio. Quando a visita chegou eu andava já de recem sacristám-ajudante do culto e tivera que aprender aquele librinho numa linguagem bem diferente do castelhano, que se lia na escola, mas imprecindível para falar com Deus na celebração da missa. Dende o "Intro altare Dei", o "confiteor", o "Dominus vobiscum", o "pater noster qui est in celis",o "credo in unum Dei", até chegarmos o desejado ite missa est, pra rematar e sair. Esta geringonça, com perdão, acabou tendo para mim um som familiar que mais tarde passaria a ser, no seminario ,posteriormente , companhia de viagem da minha vida. Ainda que o passo do tempo e o desuso do latím, incluso dentro da Igreja, faça parecer que tudo aquel estudio quedou em fumo e que ficou no olvido. Não obstante, nada é o que parece pois iste posso cultural fica no profundo do homem de hoje e jovem de então. Enfim, quer se queira quer não, tudo , seja bom seja mau, contribue na propria formacão e toda experiência sempre deixa uma pegadaNo meu caso pode ser o gosto pelas palavras, as etimologías das mesmas e o respeito e curiosidade pelas diferentes falas ou formas de falar. Seja como for calha bem o dito popular cando diz que o saber não ocupa lugar, ou seja que não me fixo mal nenhum o aprender aquela missa em latim. No obstante, o meu caso co latím não tem mérito nenhum se o comparades co caso do "Pepe do paxarinho". Era iste naquela altura um moçote que gostava de contar anedotas, brincadeiras e historias picantes que ele ouvia e gostava de expor a grupos de adeptos que arredor dele escutavam o que ele dizia. Mais ou menos como se de um cómico do " club da comedia" se tratasse", o Pepe repetia os responsos dos enterros completos, a sua maneira, numa especie de idioma inventado que era o latim que ele percevia daqueles coros de curas cantando-lhe o defunto dende a casa até o templo. Quanto mais rico fosse o defunto, mais responsos tinha. A mais dinheiro por responso mais longo era o cántico latino. Ou seja a oferta e demanda de toda a vida. Assim pois, eu escoitei o Pepe, por vezes, naquelas assembleias espontáneas recitar, a peticião daquela clã, um concerto completo responsorial.
- Pepe mandalhe um
responso de cem pesetas, despois um de duascentas e incluso algum de quinientas.
Eu ficava abraiado ou anonadado (que bem sendo o mesmo diga-se como se
diga), co canto gregoriano do Pepe . Nos meus miolos quedaron sempre
fixos aqueles responsos inventados e ainda hoje podia recitar parte
deles. Quando já supem latím e comprobei o que queríam dizer aqueles
preces auténticas e o que eu aprendera do Pepe, não podia conter a
gargalhada. O que aquel homem fabricou na sua mente era uma obra de arte
da linguagem. Algo assim tivemos nós que fazer coas canções em inglês
para cantâ-las, nem em Inglês nem espanhol senão numa lingua nova
inventada.
Tudo isto do latím litúrxico estava ainda no seu apogeu, embora a este zénit de popularidade quedavam-lhe catro días, ainda que nós nada sabíamos nem intuíamos. Estava pronto a chegarem os resultados do Concilio Vaticano II. Estava-se a prepar-se uma grande mudança na Igrexa, especialmente, e não só, na liturgia. O latím sería um daqueles cambios. Diziam que havia que falar-lhe a Deus na lingua vernácula ( iste palabrão sonava-me mais a erótico que outra cousa), que os curas traduzirom por castelhano. Assim pois, o Vaticano II andava já no seu remate, ainda que nós pouco disso sabíamos. Pouco ou quase nada nos falarom nem na catequese nem na escola nem na predicação dominical diste assunto do Concilio, no entanto sim foi moi comentada a morte do papa João XXIII que foi em pleno Concilio. Recordo a foto do papa no jornal fumando um charuto, coisa que pra figura que eu tinha dum papa já me fazia destaque, hoxe seria inimaginável. Todos choramos a morte daquel papa e sentiama-nos orfos e desamparados, ou iso era o que a minha virginal empatía sentia.
Fazia pouco mataram a Kennedy, agora isto do Concilio, Franco celebra 25 anos de paz, os americanos andam artelhando uma guerra em Vietnam. O mundo está revolucionado, onde chegaremos.
jueves, 20 de noviembre de 2025
Tal dia coma hoje morreu Franco.
Lá polos 1950, um fictício guerrilheiro antifranquista remite uma longa carta póstuma a um filho seu do que viveu separado pola guerra e a post-guerra. O filho descovre por esta carta quem é o seu pai . O silêncio foi lei para os perdedores.
Velaquí um extracto da mesma.
.......Eu e a tua mãe fomos felices, o tempo que namoramos e estivemos juntos e despois como um agasalho chega-ches tu. Mas cando as bestas se desatarom de pronto na nossa vida todo mudou . Um novo mundo de dor, violência e miseria humana engoliu-nos numa nuvem cinzenta da que não demos saido. Chegarom daquela tempos moi dificeis e duros. Fugim coa tua imagen no coração.Despois tuvem a oportunidade de que gente boa me salvasse a vida. A esperança de que a tua mãe estuvesse viva dava-me folgos para seguir na loita pola minha supervivência e poder cumprirmos o desejo de que algum dia nos juntaríamos os três em Portugal e que aquela tolemia durasse tão pouco que nos deija-se voltar o nosso fogar, como se todo fosse um mal sono. Nada disto pudo fazer-se real. Esta odiosa guerra e esta terrível persecução destrui-nos por completo. Eu já passado um tempo e a salvo em Portugal enterei-me da morte de Estrela, nossa esposa e mãe. Foi este grande amigo Miguel Morgado que me trouxe a noticia de que ela fora assassinada na provincia de Zamora dende onde ele vinha fugindo da morte segura, até encontrar-nos os dous nas contornas das terras de Montalegre.
.Na minha nova vida de guerrilheiro, andei asentado onde pude. No monte entre covas e chouzos; acubilhado em casas secretas nas aldeias; durmindo em cortes de gando, em palheiros e combarros de lenha,em alpendres e cando podia no acougo da minha casa de Pitões das Junas. O lobo e nós tinhamos conversas, saudos e intereses comúns. O lobo era a nossa metáfora de vida: ele representa a natureza indómita o espirito de supervivência e a pureza de quem não se submete. Eu, guerrilheiro, via-me reflectido nesse ser perseguido que parece partilhar com nós um mesmo destino: a solidão e a morte como preço pola liberdade.
Dende o Larouco até Castro Laboreiro dum lado e do outro da raia, andavam as nossas partilhas guerrilheiras a procurar refugios, marcar e asegurar rutas seguras de escape, proporcionar uma mínima atenção médica, proporcionar roupas e manutenção, obter informações dos destacamentos de falange e Garda Civil que tratavam de fechar a saída dos fugidos galegos. Nós iamos fronteira arriba e abaixo, entrando na Galiza e voltando os nossos de segurança nos montes e aldeias de Trás os Montes e o Gêres. A minha vida consistiu em ajudar a salvar-se a todos quantos fugidos podíamos para cruzarem a fronteira e proporcionar-lhe forma de chegar a Porto normalmente, ou a outras zonas de Portugal. Ainda que Portual era um régime dictatorial, da época de Salazar, eramos aceites ou polo menos eram tolerantes coa nossa presença. Cando podiam olhavam para outro lado e permitiam em parte a nossa vida, sempre e quando não nos mostrarámos demasiado, nem figese-mos ostentação da nossa actividade, ainda que de nada servia o nosso comportamento no caso de o Governo de Franco dar queijas da nossa presença, então era quando a Pûde, a Garda Fiscal, e a Garda Nacional atuavam forte comtra a nossa gente. Ou seja eles, normalmente, permitiam ou toleravam os nossos movementos. Seja como for o que sim é verdade e que a sociedade em geral, apoiava-nos moito e sim, havia organizações sociais e voluntarios civis que nos davam ajuda logística indispensável para mantermos eficaces. Tinhamos colaboradorestanto nas aldeias fronteiriças da Galiza como nas de Portugal . Eu aceitei o alcume de guerrilheiro, para prestigio social, e assim eramos considerados eu e os meus colegas para identificar-nos ante os paisanos e os fugidos, pois o nome de guerrilheiro é polissémico, pois há quem nos queira chamar "atracadores", "ateos" "fugidos" ,"salteadores", todos nomes despreciativos feitos pola propaganda para minusvalorar a nossa ação. No entanto eramos uns guerrilheiros forzosos e “pacíficos”, pois não estavamos preparados, nem tinhamos meios para sermos uma força combatente. Não, nós eramos uma organização logística para ajudar a supervivencia de homes e mulheres que fugiam para embarcar dende Porto para América ou passar a parte republicana de Espanha. Salvámos e ajudamos moitas vidas. Eu adotei para ser identificado na zona o alcume guerrilheiro de o “Quintairos” como recordo a nossa aldeia de origem. Entre a guerrilha conheci a homens solidários, companheiros afastados da familia, mestres fugidos coma mim, convertidos em líderes guerrilheiros que loitavam pela sua supervivencia, pois o apressamento era o mesmo que a morte rápida. Nós não tinhamos ínfulas de atacar as forças de Franco, se cruzavamos a fronteira era para curar, dar acougo e sobre todo guiar e ajudar a fugir a persoas perseguidas por serem republicanas ou nazonalistas. Incluso desertores do ejército de Franco, que de todo havia. O meu trabalho organizativo era comandar os grupos de guerrilha nesta cordilheira que ia, mais ou ou menos, dende Montalegre a Castro Laboreiro, ou visto dende a outra banda das serras, digamos que dende Baltar a Entrimo.....
......Aquí em Pitões tivem o meu acubilho e acougo em todos estes anos. Um fugido que está morto oficialmente que não tem papeis tem de buscar um sitio onde ninguém vai vir a fisgar e guichar. Aquí figem vida coa minha companheira Maria Do carmo Henriques Freitas, e com ela tenho um filho que tem o nome de Luis. Eles são a minha vida e quem me derom moita felicidade e ajuda para sair adiante. Luis tem agora dezasete anos, e moi bo moço e dize-me Miguel que se parece moito a ti. Aquí tens a tua casa, se alguma vez queres visitâ-los. Eles sabem de ti e são o minha memoria e recordo e sempre estarão esperando-te.
Toma o teu tempo, deixa pasar o que precises para asimilar todo isto. Se alguma vez quiseres ser parte da minha historia e conhecer a Maria e o Luis pois bom, aliás se todo isto che incomoda ou che-amola, pido-che desculpas e compreder-te-ia. O meu amor por ti segue vivo no meu coração e vem-se comigo, agora que está próxima a longa viagem. Sei que vens comigo e, seja o que for, passe o que pasar, es e seras o meu querido filho.
O mais grande abraço do mundo para ti, querido Manuel.
O teu pai.


“Algo se muere en el alma cuando un amigo se va…. no te vayas todavía no te vayas por favor, que hasta la guitarra mía llora de melancolía cuando dice adios”. ( sevillana popular). Parabens pelos vinte anos. Já andei mais por cá do que ando nos últimos tempos, embora ainda ando. Sempre foi e segue sendo um prazer ler os post. Eu moito tenho aprendido aquí, de uns e outros, especialmente do patrão da barca. Adiante meu, isto ojalá não morra, já temos moita esterqueira à solta por ahí, assim que isto tinha que ser Bem de Interês Cultural a conservar BIC), e que veham então os enveloppes.XD. Seja o que for, obrigado sempre pelos vinte anos.
Muito obrigado, reis, pelas tuas generosas e graciosas palavras.
Fazes muito bem em não gastar o teu precioso tempo por aqui. Felicidades nessa terra de encantos, a Galiza irmã.