jueves, 14 de julio de 2022

O assasinato do chófer da "Línea" (III)

 

OURENSE | Page 260 | Skyscraper City Forum 

no capítulo anterior

É "melhor crê-lo que averiguá-lo"

                               III   O capitám. 

     

   

O sol sigue aquecendo forte nestas tardes já de verão. A seitura anda cerca. A beirada da estrada de terra que passa por diante do café do Pepinho e do Estanco-bar-central-telefónica do senhor Luciano está um día mais cheia de gente coas  mesas cheias de homes  a botar partidas de tute ou dominó. Uns a jogar e outros a mirar  embora  todos a circundar aquelas branquinhas mesas de mármore branco e estrutura de ferro. Os edificios tornam o forte sol do sul-Este e toda a beirada está a sombra. É um momento tranquilo, um ambente vadio que invita a modorra, tal vez dos melhores momentos para  sentirem-se descontraidos e relaxados as gentes que por alí andam. 

     Dom Calixto  não teve medo o calor e montou na sua cabalheria e mansinhamente percorreo os quatro quilómentros de caminho entre A Boulhosa e Baltar. Uma sotana negra abotoada darriba em baixo e um chapeu amplo também negro dabanlhe o ar senhorial que correspondia, obviamente, a um senhor abade cura de parroquia. Ainda, os tempos não são chegados e não há estrada apropriada para circularem  os coches. Os caminhos são os mesmos que os dos nossos antergos galaícos, galaico-romanos e despois misturados com  suevos. Pois de todo caste seguro que houve  po restas terras do demo, pois ainda que não temos vestigios, ou melhor dito não forom descobertos, estamos bem certos, guiados pela nossa  intuição e o desejo. Sim contamos coa ajuda dalguma da  nossa  toponimia e achamos que os germánicos-suevos andiveram por cá assim como galaicos castrexos e tal vez algum romano.  Mas não são neste caso os Suevos e companhia quem ocuparem o nosso tempo e tampouco os do cura Dom Calixto. Ele  baixa da besta, segue co seu chapeu na cabeça  e lá vai caminho adiante pra beirada do café do Pepinho, tudo   depois de deixar o jumento atado diante da tenda da senhora Herminia que se ocupara de pôr-lhe caldeiro de auga e manhuço de erva pra aliviar a sua espera e reponher forças pra fazer o caminho de volta.

       Dom Calixto deu as horas e foi saudado por quase todos os concorrentes do café cos que se atopou. Viu-se quase obrigado a sentar-se numa mesa de fora na que estavam animadamente a conversar o senhor abade de Baltar, o Sarxento da Garda Civil e o  Dom  Honorio, burócrata das oficinas do concelho, ainda que daquela diciamos Axuntamento, meio traducindo a palavra oficial de ayuntamiento. Na mesa do lado repicavam contra o mármores as fichas de dominó da partida que estavam a botar entre o Secretario, o cabo da Garda Civil, o encargado da Fenosa e o negociante em peles, perniles e variedades da mesma clase o "jamoneiro". Todos fizeram acenos de saudo para Dom Calixto e seguiram repinicando o tempo que alzavam a voz para justificarem uma jogada ou recriminarem-lhe o companheiro a dele.

   Despois de cumprimentar a mesa na que se sentou, falou-se do tempo que estavamos a ter, moito calor pra altura do ano, ainda que pro  agricultor era bom, pois o pão tinha que madurar bem pra fazer uma bo seitura. Depois pasou-se  os comentaários obrigados de notícias que cada um ouvira no parte de Radio Nacional de Espanha, que é o único que da notícias.  Algo se disse sobre a guerra de Vietnam,  a commemoração dos vintecinco anos de paz  que nos trouxera o "Caudillo" que aparecía sorrinte e vestido à paisana,  nos cartazes pendurados por toda parte. Todos resaltavam quanto tinha prosperado Espanha dende então e a Deus grazas podíamos desfrutar do periodo mais longo de paz da historia de Espanha. Todos concordavam felizes de viver naquele momento de progreso e solaz.  E que mudara pra bem  e prosperara moito Espanha. Num momento Dom Calixto morninhamente e com certa cautela, dirigiu-se o Sarxento comandante do posto da Garda Civil  com um  coméntario  quase que obrigado. 

     -Então,  Dom Manuel, andarão moi ocupados na comandáncia este dias coa desgraza do assasinato do chófer da línea.  

       O sarxento era já um homem maduro,e que dava imagem de experimentado no seu oficio, e os anos marcavam que estava  já  no final da sua carreira . Ainda nos seus momentos de ocio os gardas vestíam o uniforme reglamentario com cinto e pistola do nove largo e o tricornio negro apostado onde se podia. Ele tinha um fino bigode, pelo branco curto peiteado o pra trás, era um homem de  meia altura, delgado e fino de talhe. Levaba o uniforme cinguido o corpo e sem a mínima enruga.  A sua apariência era grave, mas  não se mostrava nada arrogante e moitas vezes, incluso,  passava desapercebido no local do café. Ele contestou calmo e de vagar como se pensara a resposta que ia dar  a Dom Calixto. Ele sempre era prudente no seu falar, e esta vez parecia querer darlhe a sua resposta moita mais longura e dedicação da que acostumava pra  outros  casos de asuntos de servizo. Tal vez um pouco doido e para justificar-se ante um pessoa  que  ele sabia conhecedora do que passava e pra que ninguém comentase mal sobre o seu prestixio  , comentou-lhe:

      -Pois não pense, dom Calixto. Como bem sabe você a investigação  está totalmente na competência do Capitám Folgoso Quintana que veu dende madrid  a pé feito pra fazer-se cargo de todo. Nós estamos tranquilos, nada temos para fazer o respeito nem os meus jefes me chamam pra nada. Só lhe damos apoio e informação que nos pede o capitám  e nada mais. Ele fala cos gardas, comigo, interroga gente da que comunicamos suspeitas etc. e traz o encargo de , fazer algo que  nós numca fizemos, falar moito coa GNR. Tem falado co Tenente Coronel de Chaves  e também co capitám de Montealegre. Isto é cousa novidosa para nós porque nós pouco, por não dizer nada, falamos cos portugueses e como bem sabe, ainda que os dous povos temos governos amigos na práctica   ficamos  de costas viradas para os gardinhas e eles também para nós. O nosso trabalho é nem deixar pasar dalá pra cá nem o ar se for posível, assím que o inimigo para nós está lá depois da raia. 

      O sarxento até se surprendeu a se mesmo da sua largueza na informação. Embora pensou pra si, não estou contando isto a um qualquera, ele é um  cura. A costume de intercambio de informação entre o cura e a Garda civil é habitual.  Não há problema. E ninguém fala por falar, incluido o Sarxento D. Manuel . Além disso, como ninguém da pontada sem fío, o Sarxento também quería que o seu relato fosse escutado pelos presentes e que correse corredoiras adiante.  (Já me entendem). Ele pensava, e assim era, que a gente andaría a fazer-se perguntas e por em questão nas suas conversas o prestígio do senhor jefe de posto.  A propaganda se não cha fazem outros pelo menos intenta fazê-la tu.

     — Compreendo, engadiu dom Calixto. — Já sabe meu amigo, o mesmo se passa na Igrexa como Institução anque divina, também humana e jerarquica. Onde há jerarquia como pasa no Corpo da Garda Civil, estas cousas sucedem e só queda ponher-se, como dizem os militares, em primeiro tempo de saúdo. Razões poderosaas  terá o mando para as susas decisões. 

      Ficava claro que a presencia do capitam adoecia moito o comandante de posto. Temia, como qualquera, que o seu prestixio fosse minguado por comentarios mal intecionados. E já  como pra rematar a conversa o sarxento  soltou uma pequena arenga patriótica e moral tão habitual naquela altura.

     —Assim é, e assim deve ser, como bem di você. A disciplina é para nós a pedra angular do nosso saber estar. Hoje em  Espanha temos paz, trabalho e ordem e grazas o nosso  "Caudillo" que Deus conserve moitos anos. Mas bem sabe você e todos ustedes que a Garda Civil foi na guerra e e agora o piar clave do mantemento do ordem e a vixiancia e o controlo daqueles que quixessem subverter o nosso Régime. 

      Dom Calixto recebeu o embate moral  ou ideolóxico e também  quis deixar a sua pegada naquel pequeno duelo florentino. 

—Faço minhas as suas palavras e desejos, caro D. Fernando e engado, com licença, que sem a fe e a lavoura pastoral da Igreja tudo sería estéril. A victoria trouxe a recuperação dos valores morales da religião. A nossa victoria foi o trunfo conjunto da espada e o altar. Espanha voltou a ser o guieiro espiritual do mundo. Assim é que o nosso "Caudillo"  e tal pela graza de Deus que o protexe e elegiu. 

     Chegados a este ponto, Dom Calixto já via ajeitado o momento pra retirar-se desta companhia e por outra banda fervia-lhe a ansiedade de partilhar informações habituais co seu colega Luciano, que sempre tinha pra ele mais curiosidades que as que puidesse apanhar  de confessor numa confesão  geral de preceito no inicio da semana santa. Então dirigiu-sea concorrência e despachou-se,

      — Meus senhores, moi boas tardes, até outro momento.Vamos lá fazer uma visita a outros amigos. 

     Com esta breve e ceremoniosa despedida pûs Dom Calixto fim a aquela  tensa charleta de café e, sem demora, foi dar os cumprimentos o seu amigo, informante e confidente  o senhor Luciano, que lá estava de pe o lado dos sentadoiros de pedra, ouviando pra todo lado e perguntado a todo o que pasava diante ou se sentava alí. Dava igual quem fossem, mulheres, rapazes, velhos, todos eram presa dum interrogatorio "expres", por alí ninguém pasava sem deixar propina. 

  Dom Calixto sentou coma sempre, saudou coa melhor sorrisa que tinha e fez os cumprimentos e os comentarios de rigor sobor do tempo tão quente que estamos a ter, e que fazia falta um pouco de chuva, e que ja se falava de ranchos que estavam a chegar, pois a seitura parecia adiantarse este ano. Despois, como quem não quere a cousa, baixaram o ton de voz e entraram em máteria. Eu estava uma vez mais pronto a escuta o tempo que  disimulava coma sempre cum pequeno trebelho que  levaba do chão até as paredes e viceversa, tudo com bom fim de não deixar sozinhos os meus informantes. 

     —Dom Calixto, falei coa minha parenta  a  Isolina, como vostede me dixo. Na sua casa está o Capitám  e preguntando  sussaquei-lhe alguma cousinha. Já sabe ela como boa hospedeira  é moi prudente em quanto a falar dos clientes que tem, não obstante algo deixou cair.

—Conte, conte. Porque eu tamém tenho certa informação.

—  Pois já sabe, o que se acostuma a dizer. Primerio que é moi educado, moi bom rapaz, bo mozo e moi guapo. Que ainda que vive em Madrid que a ela fal-lhe em galego, despois cos gardas e coa xente em geral fala em  castelhano, como corresponde o homem da sua categoría. 

—  Também me dixo que é solteiro. E que ela ainda lhe recomendou uma rapaza nova de Ninhodaguia de pai moi rico e estudada.Não sei se voste conhecerá, ela chamam-lhe Pepita e a morgada do casal dos Frieira. A rapaza é guapa e estudada nas Carmelitas de Ourense. Ele dixo-lhe que se for  posível gustaría-lhe conhecê-la. Já sabe as mulheres nunca perdem o tempo, e se podem arranxar-lhe a qualquer un namoro lá vão. Ela dixo-me que  andava moi ocupado e que botaba  moi tempo escrevendo na sala as suas cousas. Que saia algumas vezes no coche co seu chófer e não sabia onde ia, mas o que mais lhe chamou a atenção e que tem botado mau do jamoneiro e das bestas deste para irem pros povos da frontera. Incluso um dia escoitou-lhe dizer que ia a raia dos mixtos lá para Rubiás e seguramente iriam também a Turei.     —Olhe que tenha coidado comigo. Que lhe pareceo caso. Que isse  lapadoira do jamoneiro ande de acompanhante dum senhor capitán da Garda Civil elhe caso único. Que lhe veria para andar com ele monte adiante por  aldeias todas da contorna. Claro como é que melhor conhece as corredoiras e anda sempre de sitio em sitio a comprar jamões, pernis,  peles, chouriços e o que seja precisso. Será  por isso e porque tem boas bestas para caminar corredoiras a diante. Agora também lhe digo, foi dar co contrabandista mais grande da raia. A saber o que terá pasado isse home co conto dos Jamões e  as peles?.

     O que passa e que desta lurpia de jamoneiro não se da sacado nada, anda sempre coa boca pecha. E tão grandom e lapão como calado. Ainda nunca crucei palabra de jeito com ele. Bota a vida montado na sua besta de casa em casa, sem falar quase nada. Assim que daí nada imos sacar. O capitán sabe que escolheu um mudinho. Isse não bota a lingua fora nem que o capem. Canta cousa nos podía contar isse home.

 

     Ah, e pasme-se, do que me contou também. Seica, o senhor capitán  é  vecinho seu. S seica se criou  em Celanova e que o seu pai era sarxento da Garda civil no posto de Celanova, que  estudou nos Salesianos de Ourense,  interno,  e que o acabar o bacherelato ingresou na Academia General Militar em Zaragoza. Dalí saiu de Tenente da Garda Civil e acaba recém de ascender a capitám.

 

      Dom Calixto bota a mau a frente e  lentamente  paseava a su mau  pela cabeça  mentres acarinhava o seu pelame. Escoitava e  deixava falar o Luciano contendo  um semblante de asombro. E num momento  rompeu o seu silenzo,

       Nossa senhora das Maravilhas nos ampare. Eu claro que conhezo o pai do rapaz, o sarxento Folgoso e alguns da sua familia de vista, eles são da bisbarra de Celanova. O neno nunca o cochecim.Sim ouvira falar que lhe ingresara o sarxento um filho na Academia militar para ser oficial, craro foi uma cousa moi comentada, porque era moi raro entrar na élite do ejército, e então comentou-se  polos arredores. Que pequeno  é o mundo. Oh me Deus quem o diría, pois tenho que tratar de encontrar-me com ele, poisa inda seremos parentes.

Baixando o tom de voz, e dando sinais de que de segredo se trataba, engadiu.-   Pois vou-lhe contar uma cousa que pouca xente sabe. Olhe, seica que não é filho do tal sarxento. São como segredos que  rumores que andam  a circular por aí adiante mas nunca sabes se tem algo ou não tem algo de certo. Luciano, por Deus, isto que não saia daquí.

 Perda coidado, bem sabe com quem está a falar. Entre nós não debemos de ter segredos e para gardâ-los estamos nós.  Pois venha já ise grande segredo. -Espetoulhe, intrigado o sr. Luciano.

  Repito, esto que não saia daquí. O rumor que corre é que recem nacido o neno foi entregue, por parte dos seus país, a familia Folgoso Quintana recem comenzada a Cruzada de Liberação. O casal, país do neno, andavam fuxidos e finalmente seríam apressados e fusilados polas forzas falanxistas. O pai do neno sería fusilado nos primeiros meses da guerra no alto do Furriolo depois de estar prisioneiro uns meses no mosteiro de San Rosendo. A mai tentou de fuxir para Madrid com outros correlexionarios roxos mas foi apanhada a altura de Puebla de Sanabria por un control da Garda Civil e alí forom todos mortos num enfrontamento armado, seica que dende aquí  já dera-se  a orde de que os matassem.  O Sarxento Folgoso, daquela garda civil,  era irmão da pai do neno, e ele coa sua mulher fixeram-se  cargo da   crianza, depois de amanharem no rexistro civil para asentâ-lo como o seu filho natural e assim não levar o neno acima as cargas do orixe roxo do pai, o qual era do partido Galeguista e concelleiro na República em Celanova. 

 

       Não sei se o mesmo capitám será conhecedor desta historia. E são cousas tão secretas que ninguém lhe vai perguntar nem  falar do tema, é obvio, como vostede comprenderá. O mais seguro, e o melhor para ele e que não sepa nada.

      O senhor Luciano ficou um tempinho como asombrado e não dixo nada. E um silenzo breve campou alí naqueles sentadoiros de pedra abeirados a parede da estancia. Um olhada ò longe e o verdume  da serra do Larouco e o ceio limpo fundiam-se, lá no alto numa soa imagen.

— Que voltas da a vida— rachou o silenzo o Luciano.— Que voltas da. As guerras já se sabe trazem estas cousas  tristes. Cando todo empezou ninguém pensava no que despois se nos veu e tivemos que ver. Eu entrei moi joven na falanxe porque me reclutou o Pontes que já sabia mais que nós de todo esto.Era um pouco de supervivência, se che dizem que valhas com ele, vas pelo contrario, se não vas, fas-te inimigo. Aquí o Pontes era moi activo no reclutamento e tinhamos uma boa centuria as ordens do Prieto o xefe da falanxe de Xinzo. Eramos uns mozotes e afortunadamente eu não tivem que disparar um tiro. Iamos na camioneta polos povos para que nos vissem  e pasavamo-lo bem e eramos moi mirados polas mozas das aldeias todas. Havia moitos que queriam entrar na centuria e já não admitiam a mais, e claro havia moito informador que quería simpatizar com nós. Despois de todo em alguma parte do jogo tens que estar, e nós tivemos  a sorte de estar na ganhadora, e isso é o que importa. Olhe, despois eu ingresei na garda civil, tivem que deixar o corpo mas co estatuto de ex combatente foi-me concedida a concesão destes negocios, e não me vai mal. Aquí não tivemos moitos roxos que buscar nem despois “atracadores”, este era um sitio tranquilo, que eu recordé daquí só tive que fuxir o médico don Pepe e a sua esposa, pois o Pontes quería levà-lo a Tribunal já que fora político activo por o partido de Lerroux e controlova o sindicato de agricultores. O caso  foi que Don Pepe buscou apoios entre os nossos e demostrou-se que era mais uma vingança personal do Pontes comtra ele. O médico era  dos nosos, e era quem mandava aquí, pois era o cacique local e o rico de   familia que também rico. Ele  acougou no partido de Lerroux, pois seica não simpatizava cos de Calvo Sotelo que erão mais de Igrexa. Que eu sepa por aquí os  Lerrouxistas não  foram perseguidos polo “Movimiento”. O Pontes despois disto ficou um pouco olvidado polos novos mandos, ainda mais despois cando o Prieto também foi expulso da Falanxe por temas de corrupção. E acabou como oficial do Concelho ou seja como cacique real, pois os alcaldes estão para firmar.  Em fim, outros tempos.

—Vostede  daquela estaba no seminario, não sim?

—Assim foi, contestuou Dom Calixto. Os curas eramos albos da raiva republicana e comunista e se não fosse o “Movimiento” e Franco, seríamos nós as  primeiras vítimas, como pasou em tantos sitios de Espanha ocupados polos roxos.

—Bom iso já pasou- continuo o sr. Luciano.-  e melhor não recordarmos. Grazas a Deus estamos salvos e trunfou a fé e a religião senão hoje seriamos todos uns comunistas ou estaríamos mortos.

      Os días vão passando e as minhas investigações ficaram em ponto morto. Isto não da pra mais, se pudesse falar co Capitám, ele se que tem boa informação. Mas ele não fala com ninguém destas cousas. Dize que o  capitám  vai ficar uma semana mais em Baltar, seica é, segúm as mas linguas,  porque anda no namoro  coa Pepita de Ninhodaguia, a filha da rica familia dos  Frieira. Imagino canto lhe deve gustar, porque em Madrid tem que haver mozas moito mais guapas que as da aldeia. Eu tenho visto o  Citroen dous cabalos,  no que vai o capitám com um garda com gorra de cor laranxa,  chouquelear polo caminho que sai da aldeia dabaixo e pasar por Negral e cruzar o rio na ponte da Retorta. Até Ninhodaguia não fum, pra saber do caso,  mas está claro que vai namorar coa tal Pepita.      

     A minha missão está quase pronta, na minha cabeça ficarão para sempre as imagens vividas e todo o que fum ouvindo todos estos días. E a imagen do Capitão Folgoso, que casualidades da vida leva o mesmo apelido que eu, tal vez por iso me identifiquei tanto com ele e andivem sempre tras ele sempre que pudem. Deixo por escrito unas notinhas e a minha memoria. O ano que vem vou o internado, alí espero aprender e ter tempo para dar-lhe forma de relato a todo o que ouvim e vim.Todo esto que andei a juntar queda aquí nestas notinhas pra, quem sabe, se algúm dia são interesantes ainda que só seja pra darlhe forma a um pequeno romance ou novela  de investigação criminal.

     O meu relato  não mudou moito. Até de agora  já sei  que tal vez  forom, os assasinos,  dous portugueses que vinherom de noite e matarom o Carlos diante da sua mulher e o seu filho pequeno. Que tudo estava motivado por  dívidas de cartos de contrabando. E que os assasinos, presuntamente portuguêses, não forom apanhados até o momento   nem detidos em Portugal. E o caso vai quedar fechado provavelmente. Queda  a dúvida, dizia o me pai, se lhe dispararam dende o combarro ou foi mesmo diante, pois a bala deulhe mesmo na cabeça e matou-no redondo. 

 

 


...CONTINUARÁ.

martes, 12 de julio de 2022

Das Laxas a Outeiro de Linhos. Povo que lavas no rio.

 


      O nosso rio nasce na beira norte  do Larouco. No que chamamos o monte da Rousia. Exactamente havería que tirar regueiro acima até chegar o pequeno planalto, onde se decidiu que alí remata Espanha e a Galiza e começa Portugal e O Barroso. Desde iste  planalto, é conhecido coo a raia, sai a nascença de dous rios. Para o Leste galego vai o Limia, para o Oeste galego do Barroso, portugês,  o Cávado. Como se de dous irmaus separados o nascer se tratase. Eles são como a metáfora da historia. Um mesmo territorio, um mesmo povo, uma mesma lingua, galega,  que a historia vai separar em duas, o galego e o português. Eles  fazem o seu percurso de costas viradas até chegarem o mar onde os dous desafogam tudo o  que arrastraram pelos caminhos adiante. Um, o Cavado,  só português o outro o Lima,  mistura-se de galego e de português. 

     Haverá quem diga que estou errado que o Limia não nasce aquí, que iste não é mais ca um afluente que se junta o autêntico Limia que nace nos montes cercanos a Sarreaus. Deixem que digam, o Limia é este que eu lhe estou a ensinar.Não é momento de debate quer acredite quer não venha a percorrer e a recordar, faça um pequeno esforço e acredite, pois é a verdade, ainda que não seja a oficial.

      O Cávado dalí a pouco receve augas das beiras dos montes de  Padroso e Padornelo e xa em Montealegre é um rio cheio de força e caudal que ira deixando  atrás Montealegre pola banda do noroeste, vai  val abaixo entre amieiros e choupeiras descansando em barragens varios. Acolhera o Geres e o Caldo lá na barragem da Canicada  abaixo do Gerés  e cada vez mais cheio continuara até o mar pra vazr a sua auga na vial de Esposende.  

     O Limia ainda e mais metafórico co destinho histórico. Pois é o  irmau que no seu percurso da uma reviravolta em Faramontaos e vai-se em direção a Portugal.  Nasce e percorre a Galiza, dende Baltar  baixa até a Limia, recebe as augas do Faramontaos,  pela sua direita do rio que algúns por erro chamam Limia e pasará por Ginzo, Bande e entra lá por o Lindoso  em terras portuguesas.  Alí ouvirá  que muda o seu nome um pouco e passa a chamar-se Lima. Segue o seu percurso de río grande e moi  elegante e senhorial percorre Pnte da Barca,   Ponte da Lima até  chegar o grande estuario que faz em Viana do Castelo onde chega canso, manso e largo.

     


          Este nosso Limia, foi o rio da minha infância. Vinha cheio de auga todo o ano, rico en troitas e peixes, no verão era o nosso recreio de nado no lugar chamado das insuas.  onde facia um remanso na chaira do Caneiro. 

      O lugar das Laxas foi o primeiro contato con río. Alí ia coa minha mãe quando ia lavar a roupa, especialmente no verão levava a roupa mais grande da casa pra lavar, e tendeê-la o sôl entre os penedos aquecidos pelo sôl. Um clareo, secado e depois o sôlpor recolhê-la. Nas Laxas corria a auga mansa, o río ia cheio e baixava calmo. Os peixes andavam à solta, estavam por toda parte mesmo se metiam diante das lavandeiras. Alí nas Laxas eu corrim, xoguei e desfrutei daquela paisagem tão verde e delicada. O prado da Lavandeira mesmo enfrente so seu monte no meio sempre me asombrava pela sua longura e verde  perenne. 

      Baixando  um pouco mais río em baixo a seguinte parada e Outeiro de LInhos. Havia mulheres que iam alí lavar. Era mais recolhido tinha uma ponte que cruzava o rio que comunicava o povo coas faldas do Larouco. O outeiro ficava as costas do río e estava seco e moi iluminado  todo o día. Era um pouco mais agreste que as Laxas e pra lavar parecia que não tinha tão bom lugar. A tradição marca que aquí foi o lugar do tratamento ou onde se lavava  linho uma vez colheitado. Aquel outeiro amplo leva precisamente o nome de outeiro de linhos por eso, ou também poderia ser por ser um lugar ou zona de cultivo do linho, pois é moi soleado e tem o frescor do río. Numca soupe com certeza o que a tradição queria dizer, 

      Mais  río abaixo chegamos o Caneiro, lugar lindo de castanhos, remanso do río, uma ponte antiga de pedra que cruza o río e zona de recreio e recolhida de augas de varios regatos e regatas que baixam da Serra. Um pouco mais adiante o lugar Das Insuas. Este lugar o río vira de repente a esquerda e fai baixada no terreo e colhe força pra marchar o pra baixo com impulso como que no solta numa cheia. Este era um sitio emblemático pra infância e juventude, pois era o lugar de banho e de pandilhas de rapazes no verão. 

      Tudo isto são recordos dum amigo que esmoreceu. O río hoje no verão apenas é regueirinho humilde com aquel potente e cantarim río da minha infância. As augas dos montes já não chegam todas em baixo pra outros aproveitamentos, corre pra baixo menos auga  porque os caneiros e os regatos estão escondidos entre uma inmensa matugueira que por vezes não deixa a auga correr  com força pra fazer um río como antes. Seja como for moi encanto quedou perdido e pra moitos hoje desconhecido do que foi este Limia da minha infância.