no capítulo anterior
É "melhor crê-lo que averiguá-lo"
III O capitám.
O sol sigue
aquecendo forte nestas tardes já de verão. A seitura anda cerca. A beirada da
estrada de terra que passa por diante do café do Pepinho e do
Estanco-bar-central-telefónica do senhor Luciano está um día mais cheia de
gente coas mesas cheias de homes a botar partidas de tute ou
dominó. Uns a jogar e outros a mirar embora todos a circundar aquelas branquinhas mesas de
mármore branco e estrutura de ferro. Os edificios tornam o forte sol do
sul-Este e toda a beirada está a sombra. É um momento tranquilo, um ambente
vadio que invita a modorra, tal vez dos melhores momentos para
sentirem-se descontraidos e relaxados as gentes que por alí andam.
Dom Calixto não teve medo o calor e montou na sua cabalheria
e mansinhamente percorreo os quatro quilómentros de caminho entre A Boulhosa e
Baltar. Uma sotana negra abotoada darriba em baixo e um chapeu amplo também
negro dabanlhe o ar senhorial que correspondia, obviamente, a um senhor abade
cura de parroquia. Ainda, os tempos não são chegados e não há estrada
apropriada para circularem os coches. Os
caminhos são os mesmos que os dos nossos antergos galaícos, galaico-romanos e
despois misturados com suevos. Pois de
todo caste seguro que houve po restas
terras do demo, pois ainda que não temos vestigios, ou melhor dito não forom
descobertos, estamos bem certos, guiados pela nossa intuição e o desejo. Sim contamos coa ajuda
dalguma da nossa toponimia e achamos que os germánicos-suevos
andiveram por cá assim como galaicos castrexos e tal vez algum romano. Mas não são neste caso os Suevos e companhia
quem ocuparem o nosso tempo e tampouco os do cura Dom Calixto. Ele baixa da besta, segue co seu chapeu na cabeça e lá vai caminho adiante pra beirada do café
do Pepinho, tudo depois de deixar o jumento atado diante da tenda da
senhora Herminia que se ocupara de pôr-lhe caldeiro de auga e manhuço de erva
pra aliviar a sua espera e reponher forças pra fazer o caminho de volta.
Dom Calixto deu as horas e foi saudado por quase todos os concorrentes do café
cos que se atopou. Viu-se quase obrigado a sentar-se numa mesa de fora na que
estavam animadamente a conversar o senhor abade de Baltar, o Sarxento da Garda
Civil e o Dom Honorio, burócrata das oficinas do concelho, ainda
que daquela diciamos Axuntamento, meio traducindo a palavra oficial de
ayuntamiento. Na mesa do lado repicavam contra o mármores as fichas de dominó
da partida que estavam a botar entre o Secretario, o cabo da Garda Civil, o
encargado da Fenosa e o negociante em peles, perniles e variedades da mesma
clase o "jamoneiro". Todos fizeram acenos de saudo para Dom Calixto e
seguiram repinicando o tempo que alzavam a voz para justificarem uma jogada ou
recriminarem-lhe o companheiro a dele.
Despois de cumprimentar a mesa na que se sentou, falou-se do tempo que
estavamos a ter, moito calor pra altura do ano, ainda que pro agricultor
era bom, pois o pão tinha que madurar bem pra fazer uma bo seitura. Depois pasou-se os
comentaários obrigados de notícias que cada um ouvira no parte de Radio Nacional de Espanha, que é o único que da notícias.
Algo se disse sobre a guerra de Vietnam, a commemoração dos vintecinco
anos de paz que nos trouxera o "Caudillo" que aparecía sorrinte e vestido à paisana, nos
cartazes pendurados por toda parte. Todos resaltavam quanto tinha prosperado
Espanha dende então e a Deus grazas podíamos desfrutar do periodo mais longo de
paz da historia de Espanha. Todos concordavam felizes de viver naquele momento
de progreso e solaz. E que mudara pra bem e prosperara moito Espanha. Num momento Dom
Calixto morninhamente e com certa cautela, dirigiu-se o Sarxento comandante do posto da Garda Civil com um coméntario quase que obrigado.
-Então, Dom Manuel, andarão moi ocupados na comandáncia este dias coa desgraza do
assasinato do chófer da línea.
O sarxento era já um homem maduro,e que dava imagem de experimentado no
seu oficio, e os anos marcavam que estava já no final da sua carreira . Ainda nos seus momentos de ocio
os gardas vestíam o uniforme reglamentario com cinto e pistola do nove largo e
o tricornio negro apostado onde se podia. Ele tinha um fino bigode, pelo branco
curto peiteado o pra trás, era um homem de meia altura, delgado e fino de talhe. Levaba o uniforme cinguido o corpo e sem a mínima enruga. A sua apariência era grave, mas
não se mostrava nada arrogante e moitas vezes, incluso, passava desapercebido no local do café.
Ele contestou calmo e de vagar como se pensara a resposta que ia dar a Dom Calixto. Ele sempre era prudente no seu falar, e esta vez parecia querer darlhe a sua resposta moita mais longura e dedicação da que
acostumava pra outros casos de asuntos de servizo. Tal vez um pouco doido e para
justificar-se ante um pessoa que ele sabia conhecedora do que
passava e pra que ninguém comentase mal sobre o seu prestixio ,
comentou-lhe:
-Pois não pense, dom Calixto. Como bem sabe você a investigação está
totalmente na competência do Capitám Folgoso Quintana que veu dende madrid a pé
feito pra fazer-se cargo de todo. Nós estamos tranquilos, nada temos para fazer
o respeito nem os meus jefes me chamam pra nada. Só lhe damos apoio e
informação que nos pede o capitám e nada mais. Ele fala cos gardas, comigo,
interroga gente da que comunicamos suspeitas etc. e traz o encargo de , fazer algo que nós
numca fizemos, falar moito coa GNR. Tem falado co Tenente Coronel de
Chaves e também co capitám de Montealegre. Isto é cousa novidosa para nós
porque nós pouco, por não dizer nada, falamos cos portugueses e como bem sabe,
ainda que os dous povos temos governos amigos na práctica
ficamos de costas viradas para os gardinhas e eles também para nós. O
nosso trabalho é nem deixar pasar dalá pra cá nem o ar se for posível, assím
que o inimigo para nós está lá depois da raia.
O sarxento até se surprendeu a se mesmo da sua largueza na informação. Embora
pensou pra si, não estou contando isto a um qualquera, ele é um cura. A costume de intercambio de informação entre o cura e a Garda civil é habitual. Não há problema. E ninguém fala por falar, incluido o
Sarxento D. Manuel . Além disso, como ninguém da pontada sem fío, o Sarxento também quería que o seu relato fosse escutado pelos presentes e que correse corredoiras adiante. (Já me entendem). Ele pensava, e assim era, que a gente andaría a fazer-se perguntas e por em questão nas suas conversas o prestígio do senhor jefe de posto. A propaganda se
não cha fazem outros pelo menos intenta fazê-la tu.
—
Compreendo, engadiu dom Calixto. — Já sabe meu amigo, o mesmo se passa na
Igrexa como Institução anque divina, também humana e jerarquica. Onde há
jerarquia como pasa no Corpo da Garda Civil, estas cousas sucedem e só queda
ponher-se, como dizem os militares, em primeiro tempo de saúdo. Razões
poderosaas terá o mando para as susas decisões.
Ficava claro que a presencia do capitam adoecia moito o comandante de posto.
Temia, como qualquera, que o seu prestixio fosse minguado por comentarios mal
intecionados. E já como pra rematar a conversa o sarxento soltou
uma pequena arenga patriótica e moral tão habitual naquela altura.
—Assim
é, e assim deve ser, como bem di você. A disciplina é para nós a pedra angular
do nosso saber estar. Hoje em Espanha temos paz, trabalho e ordem e
grazas o nosso "Caudillo" que Deus conserve moitos anos. Mas
bem sabe você e todos ustedes que a Garda Civil foi na guerra e e agora o piar
clave do mantemento do ordem e a vixiancia e o controlo daqueles que quixessem
subverter o nosso Régime.
Dom Calixto recebeu o embate moral ou ideolóxico e também quis
deixar a sua pegada naquel pequeno duelo florentino.
—Faço minhas
as suas palavras e desejos, caro D. Fernando e engado, com licença, que sem a
fe e a lavoura pastoral da Igreja tudo sería estéril. A victoria trouxe a
recuperação dos valores morales da religião. A nossa victoria foi o trunfo
conjunto da espada e o altar. Espanha voltou a ser o guieiro espiritual do
mundo. Assim é que o nosso "Caudillo" e tal pela graza de Deus
que o protexe e elegiu.
Chegados
a este ponto, Dom Calixto já via ajeitado o momento pra retirar-se desta
companhia e por outra banda fervia-lhe a ansiedade de partilhar informações
habituais co seu colega Luciano, que sempre tinha pra ele mais curiosidades que
as que puidesse apanhar de confessor numa confesão geral de preceito
no inicio da semana santa. Então dirigiu-sea concorrência e despachou-se,
— Meus senhores, moi boas tardes, até outro momento.Vamos lá fazer uma visita a
outros amigos.
Com esta breve e ceremoniosa despedida pûs Dom Calixto fim a aquela tensa
charleta de café e, sem demora, foi dar os cumprimentos o seu amigo, informante
e confidente o senhor Luciano, que lá estava de pe o lado dos sentadoiros
de pedra, ouviando pra todo lado e perguntado a todo o que pasava diante ou se
sentava alí. Dava igual quem fossem, mulheres, rapazes, velhos, todos eram
presa dum interrogatorio "expres", por alí ninguém pasava sem deixar
propina.
Dom
Calixto sentou coma sempre, saudou coa melhor sorrisa que tinha e fez os
cumprimentos e os comentarios de rigor sobor do tempo tão quente que estamos a
ter, e que fazia falta um pouco de chuva, e que ja se falava de ranchos que
estavam a chegar, pois a seitura parecia adiantarse este ano. Despois, como
quem não quere a cousa, baixaram o ton de voz e entraram em máteria. Eu estava
uma vez mais pronto a escuta o tempo que disimulava coma sempre cum
pequeno trebelho que levaba do chão até as paredes e viceversa, tudo com
bom fim de não deixar sozinhos os meus informantes.
—Dom Calixto, falei coa minha parenta a Isolina, como vostede me
dixo. Na sua casa está o Capitám e preguntando sussaquei-lhe alguma
cousinha. Já sabe ela como boa hospedeira é moi prudente em quanto a
falar dos clientes que tem, não obstante algo deixou cair.
—Conte,
conte. Porque eu tamém tenho certa informação.
— Pois
já sabe, o que se acostuma a dizer. Primerio que é moi educado, moi bom rapaz,
bo mozo e moi guapo. Que ainda que vive em Madrid que a ela fal-lhe em galego,
despois cos gardas e coa xente em geral fala em castelhano, como
corresponde o homem da sua categoría.
— Também
me dixo que é solteiro. E que ela ainda lhe recomendou uma rapaza nova de
Ninhodaguia de pai moi rico e estudada.Não sei se voste conhecerá, ela
chamam-lhe Pepita e a morgada do casal dos Frieira. A rapaza é guapa e estudada
nas Carmelitas de Ourense. Ele dixo-lhe que se for posível gustaría-lhe
conhecê-la. Já sabe as mulheres nunca perdem o tempo, e se podem arranxar-lhe a
qualquer un namoro lá vão. Ela dixo-me que andava moi ocupado e que botaba moi
tempo escrevendo na sala as suas cousas. Que saia algumas vezes no coche
co seu chófer e não sabia onde ia, mas o que mais lhe chamou a atenção e que
tem botado mau do jamoneiro e das bestas deste para irem pros povos da
frontera. Incluso um dia escoitou-lhe dizer que ia a raia dos mixtos lá para
Rubiás e seguramente iriam também a Turei. —Olhe que tenha coidado comigo. Que lhe
pareceo caso. Que isse lapadoira do
jamoneiro ande de acompanhante dum senhor capitán da Garda Civil elhe caso
único. Que lhe veria para andar com ele monte adiante por aldeias todas da contorna. Claro como é que
melhor conhece as corredoiras e anda sempre de sitio em sitio a comprar jamões,
pernis, peles, chouriços e o que seja
precisso. Será por isso e porque tem
boas bestas para caminar corredoiras a diante. Agora também lhe digo, foi dar
co contrabandista mais grande da raia. A saber o que terá pasado isse home co
conto dos Jamões e as peles?.
—
O que passa
e que desta lurpia de jamoneiro n࣯ão se da sacado nada, anda sempre coa boca pecha. E
tão grandom e lapão como calado. Ainda nunca crucei palabra de jeito com ele.
Bota a vida montado na sua besta de casa em casa, sem falar quase nada. Assim
que daí nada imos sacar. O capitán sabe que escolheu um mudinho. Isse não bota
a lingua fora nem que o capem. Canta cousa nos podía contar isse home.
—
Ah, e
pasme-se, do que me contou também. Seica, o senhor capitán é vecinho seu. S seica se criou
em Celanova e que o seu pai era sarxento da Garda civil no posto de Celanova,
que estudou nos Salesianos de Ourense, interno, e que o
acabar o bacherelato ingresou na Academia General Militar em Zaragoza. Dalí
saiu de Tenente da Garda Civil e acaba recém de ascender a capitám.
Dom Calixto bota a mau a frente e lentamente paseava a su mau pela cabeça
mentres acarinhava o seu pelame. Escoitava e deixava falar o Luciano contendo um semblante de asombro. E num momento rompeu o seu silenzo,
— Nossa senhora das Maravilhas nos ampare. Eu
claro que conhezo o pai do rapaz, o sarxento Folgoso e alguns da sua familia de
vista, eles são da bisbarra de Celanova. O neno nunca o cochecim.Sim ouvira
falar que lhe ingresara o sarxento um filho na Academia militar para ser
oficial, craro foi uma cousa moi comentada, porque era moi raro entrar na élite
do ejército, e então comentou-se polos
arredores. Que pequeno é o mundo. Oh me
Deus quem o diría, pois tenho que tratar de encontrar-me com ele, poisa inda
seremos parentes.
Baixando o
tom de voz, e dando sinais de que de segredo se trataba, engadiu.- Pois vou-lhe contar uma cousa que pouca
xente sabe. Olhe, seica que não é filho do tal sarxento. São como segredos
que rumores que andam a circular por aí adiante mas nunca sabes se
tem algo ou não tem algo de certo. Luciano, por Deus, isto que não saia daquí.
— Perda coidado, bem sabe com quem está a falar.
Entre nós não debemos de ter segredos e para gardâ-los estamos nós. Pois venha já ise grande segredo.
-Espetoulhe, intrigado o sr. Luciano.
— Repito, esto que não saia
daquí. O rumor que corre é que recem nacido o neno foi entregue, por parte dos
seus país, a familia Folgoso Quintana recem comenzada a Cruzada de Liberação. O
casal, país do neno, andavam fuxidos e finalmente seríam apressados e fusilados
polas forzas falanxistas. O pai do neno sería fusilado nos primeiros meses da
guerra no alto do Furriolo depois de estar prisioneiro uns meses no mosteiro de
San Rosendo. A mai tentou de fuxir para Madrid com outros correlexionarios
roxos mas foi apanhada a altura de Puebla de Sanabria por un control da Garda
Civil e alí forom todos mortos num enfrontamento armado, seica que dende
aquí já dera-se a orde de que os matassem. O Sarxento
Folgoso, daquela garda civil, era irmão da pai do neno, e ele coa sua
mulher fixeram-se cargo da crianza, depois de amanharem no
rexistro civil para asentâ-lo como o seu filho natural e assim não levar o neno
acima as cargas do orixe roxo do pai, o qual era do partido Galeguista e
concelleiro na República em Celanova.
— Não
sei se o mesmo capitám será conhecedor desta historia. E são cousas tão
secretas que ninguém lhe vai perguntar nem
falar do tema, é obvio, como vostede comprenderá. O mais seguro, e o
melhor para ele e que não sepa nada.
O senhor Luciano ficou um tempinho como
asombrado e não dixo nada. E um silenzo breve campou alí naqueles sentadoiros
de pedra abeirados a parede da estancia. Um olhada ò longe e o verdume da serra do Larouco e o ceio limpo
fundiam-se, lá no alto numa soa imagen.
— Que voltas
da a vida— rachou o silenzo o Luciano.— Que voltas da. As guerras já se sabe
trazem estas cousas tristes. Cando todo
empezou ninguém pensava no que despois se nos veu e tivemos que ver. Eu entrei
moi joven na falanxe porque me reclutou o Pontes que já sabia mais que nós de
todo esto.Era um pouco de supervivência, se che dizem que valhas com ele, vas
pelo contrario, se não vas, fas-te inimigo. Aquí o Pontes era moi activo no
reclutamento e tinhamos uma boa centuria as ordens do Prieto o xefe da falanxe
de Xinzo. Eramos uns mozotes e afortunadamente eu não tivem que disparar um
tiro. Iamos na camioneta polos povos para que nos vissem e pasavamo-lo bem e eramos moi mirados polas
mozas das aldeias todas. Havia moitos que queriam entrar na centuria e já não admitiam
a mais, e claro havia moito informador que quería simpatizar com nós. Despois
de todo em alguma parte do jogo tens que estar, e nós tivemos a sorte de estar na ganhadora, e isso é o que
importa. Olhe, despois eu ingresei na garda civil, tivem que deixar o corpo mas
co estatuto de ex combatente foi-me concedida a concesão destes negocios, e não
me vai mal. Aquí não tivemos moitos roxos que buscar nem despois “atracadores”,
este era um sitio tranquilo, que eu recordé daquí só tive que fuxir o médico don
Pepe e a sua esposa, pois o Pontes quería levà-lo a Tribunal já que fora
político activo por o partido de Lerroux e controlova o sindicato de
agricultores. O caso foi que Don Pepe
buscou apoios entre os nossos e demostrou-se que era mais uma vingança personal
do Pontes comtra ele. O médico era dos
nosos, e era quem mandava aquí, pois era o cacique local e o rico de familia que também rico. Ele acougou no partido de Lerroux, pois seica não
simpatizava cos de Calvo Sotelo que erão mais de Igrexa. Que eu sepa por aquí
os Lerrouxistas não foram perseguidos polo “Movimiento”. O Pontes
despois disto ficou um pouco olvidado polos novos mandos, ainda mais despois
cando o Prieto também foi expulso da Falanxe por temas de corrupção. E acabou
como oficial do Concelho ou seja como cacique real, pois os alcaldes estão para
firmar. Em fim, outros tempos.
—Vostede daquela estaba no seminario, não sim?
—Assim foi, contestuou Dom Calixto. Os curas eramos albos da raiva republicana e comunista
e se não fosse o “Movimiento” e Franco, seríamos nós as primeiras vítimas, como pasou em tantos
sitios de Espanha ocupados polos roxos.
—Bom iso já
pasou- continuo o sr. Luciano.- e melhor não recordarmos. Grazas a Deus
estamos salvos e trunfou a fé e a religião senão hoje seriamos todos uns
comunistas ou estaríamos mortos.
Os días vão passando e as minhas investigações ficaram em ponto morto. Isto não
da pra mais, se pudesse falar co Capitám, ele se que tem boa informação. Mas
ele não fala com ninguém destas cousas. Dize que o capitám vai
ficar uma semana mais em Baltar, seica é, segúm as mas linguas, porque
anda no namoro coa Pepita de Ninhodaguia, a filha da rica familia
dos Frieira. Imagino canto lhe deve gustar, porque em Madrid tem que
haver mozas moito mais guapas que as da aldeia. Eu tenho visto o Citroen
dous cabalos, no que vai o capitám com um garda com gorra de cor
laranxa, chouquelear polo caminho que sai da aldeia dabaixo e pasar por
Negral e cruzar o rio na ponte da Retorta. Até Ninhodaguia não fum, pra saber
do caso, mas está claro que vai namorar coa tal
Pepita.
A
minha missão está quase pronta, na minha cabeça ficarão para sempre as imagens
vividas e todo o que fum ouvindo todos estos días. E a imagen do Capitão
Folgoso, que casualidades da vida leva o mesmo apelido que eu, tal vez por iso
me identifiquei tanto com ele e andivem sempre tras ele sempre que pudem. Deixo
por escrito unas notinhas e a minha memoria. O ano que vem vou o internado, alí
espero aprender e ter tempo para dar-lhe forma de relato a todo o que ouvim e
vim.Todo esto que andei a juntar queda aquí nestas notinhas pra, quem sabe, se
algúm dia são interesantes ainda que só seja pra darlhe forma a um pequeno
romance ou novela de investigação criminal.
O meu relato não mudou moito. Até de agora já sei que tal
vez forom, os assasinos, dous portugueses que vinherom de noite e
matarom o Carlos diante da sua mulher e o seu filho pequeno. Que tudo estava
motivado por dívidas de cartos de contrabando. E que os assasinos,
presuntamente portuguêses, não forom apanhados até o momento nem
detidos em Portugal. E o caso vai quedar fechado provavelmente. Queda a
dúvida, dizia o me pai, se lhe dispararam dende o combarro ou foi mesmo diante,
pois a bala deulhe mesmo na cabeça e matou-no redondo.
...CONTINUARÁ.