Lá polos 1950, um fictício guerrilheiro antifranquista remite uma longa carta póstuma a um filho seu do que viveu separado pola guerra e a post-guerra. O filho descovre por esta carta quem é o seu pai . O silêncio foi lei para os perdedores.
Velaquí um extracto da mesma.
.......Eu e a tua mãe
fomos felices, o tempo que namoramos e estivemos juntos e despois como um agasalho
chega-ches tu. Mas cando as bestas se desatarom de pronto na nossa vida
todo mudou . Um novo mundo de dor, violência e miseria humana
engoliu-nos numa nuvem cinzenta da que não demos saido. Chegarom daquela tempos moi dificeis e duros. Fugim coa
tua imagen no coração.Despois tuvem a oportunidade de que gente boa me salvasse a
vida. A esperança de que a tua mãe estuvesse viva dava-me folgos para seguir na
loita pola minha supervivência e
poder cumprirmos o desejo de que algum
dia nos juntaríamos os três em Portugal
e que aquela tolemia durasse tão pouco que nos deija-se voltar o nosso fogar,
como se todo fosse um mal sono. Nada disto
pudo fazer-se real. Esta odiosa
guerra e esta terrível persecução
destrui-nos por completo. Eu já passado um tempo e a salvo em Portugal
enterei-me da morte de Estrela, nossa
esposa e mãe. Foi este grande amigo Miguel Morgado que me trouxe a noticia de
que ela fora assassinada na provincia
de Zamora dende onde ele vinha fugindo da morte segura, até
encontrar-nos os dous nas contornas das terras de Montalegre.
.Na minha nova
vida de guerrilheiro, andei asentado
onde pude. No monte entre covas e chouzos; acubilhado em casas secretas nas
aldeias; durmindo em cortes de gando, em palheiros e combarros de lenha,em alpendres e cando podia no acougo da minha casa de Pitões das
Junas. O lobo e nós tinhamos conversas, saudos e intereses comúns. O lobo era a
nossa metáfora de vida: ele representa a natureza indómita o espirito de
supervivência e a pureza de quem não se submete. Eu, guerrilheiro, via-me
reflectido nesse ser perseguido que parece partilhar com nós um mesmo destino: a solidão e a morte como preço pola liberdade.
Dende o Larouco até Castro Laboreiro dum lado e do outro da raia, andavam as nossas partilhas guerrilheiras a procurar refugios, marcar e asegurar rutas seguras de escape, proporcionar uma mínima atenção médica, proporcionar roupas
e manutenção, obter informações dos destacamentos de falange e Garda Civil que
tratavam de fechar a saída dos fugidos galegos. Nós iamos fronteira arriba e abaixo, entrando na Galiza e voltando os nossos de segurança nos montes e aldeias de Trás os
Montes e o Gêres. A minha vida consistiu em ajudar a salvar-se a todos quantos
fugidos podíamos para cruzarem a
fronteira e proporcionar-lhe forma de chegar a Porto normalmente, ou a outras
zonas de Portugal. Ainda que Portual era um régime dictatorial, da época de Salazar,
eramos aceites ou polo menos eram tolerantes coa nossa presença. Cando
podiam olhavam para outro lado e permitiam em parte a nossa vida, sempre e
quando não nos mostrarámos demasiado,
nem figese-mos ostentação da
nossa actividade, ainda que de nada servia o nosso comportamento no caso de o
Governo de Franco dar queijas da nossa
presença, então era quando a Pûde, a Garda Fiscal, e a Garda Nacional atuavam forte comtra a nossa gente. Ou seja eles,
normalmente, permitiam ou toleravam os nossos movementos. Seja como for o que sim é verdade e que a sociedade em geral, apoiava-nos moito e sim, havia organizações sociais e voluntarios civis
que nos davam ajuda logística indispensável para mantermos eficaces. Tinhamos
colaboradorestanto nas aldeias fronteiriças da Galiza como nas de Portugal . Eu aceitei o
alcume de guerrilheiro, para prestigio social, e assim eramos considerados eu e os meus colegas para
identificar-nos ante os paisanos e os fugidos, pois o nome de guerrilheiro é
polissémico, pois há quem nos queira chamar "atracadores", "ateos" "fugidos" ,"salteadores", todos nomes despreciativos feitos pola propaganda para minusvalorar a nossa ação. No entanto eramos uns guerrilheiros forzosos e “pacíficos”, pois não estavamos
preparados, nem tinhamos meios para sermos uma força combatente. Não, nós
eramos uma organização logística para
ajudar a supervivencia de homes e mulheres que fugiam para embarcar dende Porto
para América ou passar a parte
republicana de Espanha. Salvámos e ajudamos
moitas vidas. Eu adotei para ser identificado na zona o alcume guerrilheiro de o “Quintairos” como recordo a nossa aldeia de origem. Entre a guerrilha conheci a homens solidários,
companheiros afastados da familia, mestres fugidos coma mim, convertidos em líderes
guerrilheiros que loitavam pela sua supervivencia, pois o apressamento era o
mesmo que a morte rápida. Nós não tinhamos ínfulas de atacar as forças de
Franco, se cruzavamos a fronteira era para curar, dar acougo e sobre todo guiar
e ajudar a fugir a persoas perseguidas
por serem republicanas ou nazonalistas.
Incluso desertores do ejército de Franco, que de todo havia. O meu
trabalho organizativo era comandar os grupos de
guerrilha nesta cordilheira que ia, mais ou ou menos, dende Montalegre a Castro Laboreiro, ou visto dende a outra banda
das serras, digamos que dende Baltar a
Entrimo.....
......Aquí em Pitões
tivem o meu acubilho e acougo em todos estes anos. Um fugido que está morto
oficialmente que não tem papeis tem de buscar um sitio onde ninguém vai vir a
fisgar e guichar. Aquí figem vida coa
minha companheira Maria Do carmo Henriques Freitas, e com ela tenho um filho que tem o nome de Luis. Eles são a
minha vida e quem me derom moita felicidade
e ajuda para sair adiante. Luis tem agora dezasete anos, e moi bo moço
e dize-me Miguel que se parece moito a ti. Aquí tens a tua casa, se alguma
vez queres visitâ-los. Eles sabem de ti e são o minha memoria e recordo e
sempre estarão esperando-te.
Toma o teu
tempo, deixa pasar o que precises para
asimilar todo isto. Se alguma vez quiseres ser parte da minha historia e
conhecer a Maria e o Luis pois bom, aliás se todo isto che incomoda ou che-amola, pido-che desculpas e
compreder-te-ia. O meu amor por ti segue vivo no meu coração e vem-se comigo, agora que está próxima a longa viagem.
Sei que vens comigo e, seja o que for, passe o que pasar, es e seras o meu
querido filho.
O mais grande abraço do mundo para ti,
querido Manuel.
O teu pai.