A noite protege o sonho da urbe. É meia noite, dum agosto vulcánico, á cidade da agua quente ferve pelo día e deixa um morno cansaço na noite. Nem um sopro de ar fresco, janelas abertas, custa adormecer. Vivo num quarto andar e estou de ferias. Este ano correu bem, foi duro, atrás já fica o sexto e a reválida. O tempo passa vagarosso e desfruta-se cada minuto. Desfruta-se tranquilo o ar sereno da noite, a inquietude dos dezasseis anos e a incereza do que será.
O calor não me deixa adormecer, são três horas na noite, a janela aberta apanha quanto ruido há. O vizinho do terceiro andar, debaixo do meu, matraquea na máquina de escrever . O fumo dos seus charutos sube até a mina habitação, cheira forte, por vezes escuta-se o ranger da sua tosa de fumador misturada co matraqueo do son da máquina. Ele é jornalista, costuma escrever de noite. Eu tenho reparado nele outras noites e tenho-o olhado desde á rua . Tem a janela aberta, fuma, veste uma camiseta de tiras, o seu pelo é ralo e desalinhado, anda por perto dos quarenta. Só olha para o papel e a máquina, amanha acordara e terá de levar o trabalho feito na noite o jornal para o que trabalha. Eu acostumo a lêr os seus artigos. Um día fala duma festa, outro da historia da cidade, outra duma visita do Generalísimo, outro día da procesão tão linda do Corpus Christi, outro día escreve sobre que a equipa de futebol. Ele mistura um pouco de tudo. Eu tenho o visto de manha, passeando, e pela tarde acostuma ir a libraria Tanco na rua do passeio, a rua que os roteiros oficiais chamam de José Antonio Primo de Rivera. Eu acho que ele é comunista mas fez o papel de homem neutral ou amigo do Régimem, não sei, eu sigo a investigâ-lo e procuro nos seus artigos no jornal frases dirigidas os seus companheiros, palavras em clave, senhas para alguns disidentes que andarão agochados em algures. Penso eu se ele é comunista porque na librería Tanco eu tenho visto gente que anda por lá e se comunicam emtre eles de maneira muito suspeita.Depois também tenho visto como algúns entram o fundo na trás tenda, incluso algum profesor do meu Instituto. Eu ouvi que lá reunem-se gente que faz política clandestina e não está co Régimen. No entanto à policía e consciente embora permite-o. O meu amigo jornalista vai muito pela libraría. Então ¿ E se fose um investigador do Regime a caçar comunistas?. Talvez eu esteja errado. Terei que seguir a investigar.
¿ Porque haberá contrarios o Regime?. Numca escutei falar a nenhum, a mim Franco não me faz mal, aliás creio que Franco existiu sempre e que o mundo se fundou com ele. Até creio que vivirá sempre. A mina Avõa diz ter medo do que vaia a pasar se desaparece Franco. Tenho que saber porque há gentes contrarias o Regime, não compreendo.
Numca falei co jornalista, encontramo-nos na escaleira mas nunca falamos. Ele nem repara em min, sempre anda à presa e nervoso. Eu olho para ele e penso nos serviços secretos,nas conspirações.
Ja comentei isto co meu amigo Julio do curso superior. Ele conta-me historias de gente que se reúnem e fala-me de detenções da policia. Eu acho que exagera que fabula comigo, e sempre acaba por dizerme que ainda tenho muito que apreender de tudo. Isso magoa-me um pouco no entanto desfruto cas suas historias e o muito que sabe de tantas coisas. Ele diz que o ano que bem vai ir a universidade e vai ser jornalista como o vizinho do terceiro andar. Eu olho-o e fico abraiado e assombrado. Jornalista.